Quase Famosos,
de Cameron Crowe


Almost Famous, EUA, 2000

A pergunta a se fazer ainda é a mesma: Cameron Crowe algum dia conseguirá fazer alguma coisa mais interessante do que ter escrito o livro que deu origem a Picardias Estudantis, filme chave do cinema adolescente dos anos 80? Parece difícil, pois a sinceridade de testemunho na direção de Amy Heckerling desse filme nunca conseguiu se repetir em nenhum dos filmes de Crowe, sempre empenhado em parecer mais interessante do que realmente em sê-lo. Tendo começado um movimento curioso no cinema americano, Crowe foi igualmente responsável por um dos surtos mais chatos do cinema americano recente, os filmes sobre geração X (Say Anything talvez seja o primeiro deles). Nada mais responsável, então, do que retomar os dois "gêneros" e juntá-los num filme só. Pois estão em Quase Famosos tanto os adolescentes de Picardias Estudantis quanto os roqueiros de Singles, a descoberta do amor e do sexo dos adolescentes e a falta de rumos da geração que entra na idade adulta.

Quase Famosos observa o début roquenrou do menino William, filho de uma professora mezzo natureba mezzo opressiva. Quando a filha rebelde resolve sair de casa para ser comissária de bordo, o irmão acha debaixo de sua cama uma mochila de couro entupida de discos de rock – Beach Boys, Who, Led Zeppelin – e enfim acaba sendo o roquenrol que, alguns anos depois, dá a William sua liberdade. Seguem-se a primeira matéria para o jornal da escola, os encontros com o crítico preferido, o primeiro chamado para uma crítica em revista grande... e depois a primeira turnê, o contato com as groupies, entre as quais Penny Lane, espécie de deusa teen one-way, que se sabe descartável mas que parece pouco se importar. Penny será a amada de William (e de boa parte do púbico masculino, pois a fofura Kate Hudson tem uma graça incomum...) e guiará o olhar do moleque através das maravilhas frívolas do rock'n'roll. Seguirá aí o deslumbramento com a vida em turnê do grupo Stillwater (baseado nos Allmann Brothers), uma peripécia que acabará dando a ele – um guri de quinze anos – a capa da revista Rolling Stone, o desencantamento de Penny lane, o desvirginamento do garoto por três groupies doidinhas, enfim a vida imaginada do rock'n'roll.

Se o cinema de Cameron Crowe nunca vai longe demais para que a ele seja dado um interesse maior, ao menos ele tem a qualidade de, algumas vezes, ser gracioso. E mesmo que seja impossível deixar de comparar Quase Famosos a Velvet Goldmine (onde Crowe perde de goleada para Todd Haynes e há pelo menos uma cena chupada, a da audição do disco do Who), o filme de Crowe não incomoda e ainda nos dá de bandeja uma trilha sonora boa (Led Zeppelin direto, "Cortez The Killer" de Neil Young em versão acústica, "My Cherie Amour" de Stevie Wonder) e alguns momentos bem bacanas. Agradável de ver.

Ruy Gardnier