Psicopata
Americano,
de Mary Harron
American Psycho, EUA,
2000
Fui ver o Psicopata
americano, como contei, e fiquei com uma questão específica
na telha, que é a seguinte: Será que a gente pode dizer
que um filme deu certo, ou que deu errado?
Quer dizer, não
interessa se o filme ficou bem-feito, ou se é impressionante e
mexe com as pessoas, ou mesmo se ele tem boas ou más intenções.
O que eu quero dizer é que o 'psicopata...' é um filme que
se dispõe a colocar na berlinda a geração pó-dinheiro-ostentação
dos anos oitenta-noventa, mas a dúvida que fica é se de
fato é possível entender o discurso do filme como tal, ou
se não acaba parecendo apenas mais um filme sobre psicopata americano.
Quer dizer, será que a crítica social é eficiente
de fato? ou será que, para quem vê, não há
diferença entre este filme e Hannibal sob o ponto de vista
ético, as diferenças se resumem apenas aos orçamentos?
Porque a intenção é boa, e o filme é bem feito.
Mas, fazendo uma comparação com um discurso oral, desconfio
que as intenções do discurso eram até boas, mas as
pessoas que forem ver vão achar o discurso muito bacana, cheio
de palavras bonitas, e vão sair dizendo exatamente o contrário
do que esperava quem fez o discurso.
É claro que
dizer que um filme pode simplesmente 'dar errado' vai contra essa visão
de que um filme só se define na cabeça de quem vê,
de que não importa o que o cineasta ou produtor queria dizer, mas
só o que o público entendeu.
Mas não sei,
acho que a gente tem que ver se o filme pode ser compreendido de fato.
E, se não é, talvez o problema não seja que se trata
de 'um filme à frente do seu tempo', mas apenas de um filme que
não é claro. E, no caso, que não é claro por
querer ser evidente demais. Acaba por se seduzir pelas pequenezas do seu
protagonista, acaba por parecer se nivelar a ele.
É evidente
que o filme tem por mérito querer mostrar a corrosão moral
de um modo de vida doentio e egoísta. Só fica a dúvida
se o interesse em mostrar essa corrosão não se transformou
em fascínio com a cultura mostrada, e portanto tornando-se um interesse
ambíguo, onde, ao se utilizar das mesmas armas dessa cultura (violência
e ostentação), esse interesse não acabou sendo cooptado
e dominado justamente por esta cultura que queria condenar.
Sei lá...
Daniel Caetano
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