Prefiro o Barulho do Mar,
de Mimmo Calopresti

Prefrisco il rumore del mare, Itália, 2000


A Itália sempre foi dividida pela velha questão das diferenças gritantes entre seu Sul tradicional e menos desenvolvido economicamente, e o Norte industrializado e endinheirado. Rocco e seus Irmãos certamente é um filme que vem à mente, mas podemos traçar uma longuíssima linhagem de filmes centrados nesta dualidade, desembocando no recente e excelente Assim é que se Ria, de Gianni Amelio. Mimmo Calopresti vai se aventurar no mesmo tema, embora sua opção entre os dois estilos de vida fique bem claro já no título do filme.

Mas, seu elogio por fim da vida "simples mas verdadeira" do Sul comparada à complexa porém vazia existência endinheirada do Norte é a menos incomodativa de suas ingenuidades. Muito mais grave para o sucesso do filme é sua incapacidade de colocar o espectador ao seu lado. A frieza da projeção é impressionante, e não parece tanto uma opção de estilo como uma incapacidade que vem da direção de atores (os jovens, em especial, são muito ruins) e que toma conta da estrutura narrativa, onde as cenas se sucedem aos borbotões, sem maior significação que dê a uma determinada ordenação maior ou mais contundente importância.

E olhe que o esboço da narrativa é promissor, mostrando um homem de meia-idade passando pela crise existencial depois de ter ido do Sul para o Norte na sua juventude e ficado rico ao casar com a herdeira de um império. Ao voltar à sua cidade natal e ao ato de pescar como antigamente, acaba sentindo uma melancolia extrema, e seus dilemas Sul/Norte passam a ser encarnados pelo filho dele (um riquinho revoltado) e um jovem que ele resolve ajudar na transição que ele um dia fez para o Norte, e em quem ele acaba se espelhando mais do que no filho. Interessantemente, nenhum dos dois parece muito conquistado pelas tentativas de conciliação do pai, o que só aumenta sua angústia.

Como eu disse, porém, não convém se animar por esta estrutura narrativa que realmente daria panos para manga na mão de um cineasta menos modorrento e francamente sem talento como é o caso de Calopresti. Ao final, os que ainda estiverem se importando com o que vêem e os personagens podem até refletir sobre alguns pontos interessantes de seus dilemas. Mas serão poucos os que restaram.

Eduardo Valente