Place
Vendôme,
de Nicole Garcia
Place Vendôme, França,
1998
Place Vendôme assume de início
uma estratégia narrativa das mais arriscadas: se sustenta em torno
de um mistério não revelado do passado, de relações
humanas que vêm de muito tempo atrás, mas cujas chaves o
espectador não tem. Quando um diretor se decide por este caminho,
precisa estar ciente do maior risco. Se demorar mais do que o aceitável
pelo espectador, se não criar outras formas de identificação,
ele vai perder a relação possível de empatia com
o mesmo.
Em Place Vendôme, infelizmente
isso acontece. Toda a trama de suspense e intriga baseada no roubo e venda
de jóias, está apoiada num segredo do passado e nas relações
entre os personagens. Infelizmente, quando o espectador descobre isso,
lá pelos 48 minutos do segundo tempo, o jogo já estava muito
chato e repetitivo. Claro que não ajuda o excesso de cuidado quase
obsessivo da mise-en-scene, a câmera que não pára
de se mover, a elegância decadente. O filme atinge um diapasão
de completa frieza com quem o assiste.
Destacar ótimas cenas como o flashback
corajoso que, ao retratar uma personagem quando jovem com a mesma
atriz que interpreta uma outra personagem no filme, jogando com noções
interessantes de projeção de personalidade, ou ainda falar
do final onde todos os personagens jogam seus códigos para o alto
pelo mais que humano amor, tudo isso fica vazio pois é detalhismo
numa causa já perdida. O roteiro é descuidado, esquece de
personagens ou os usa sem explicações, ou função
narrativa ou humana real. Com isso, fica difícil pensar num filme
que funcione a contendo. Olha-se para ele, mas bem de longe...
Eduardo Valente
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