Meu Pequeno Negócio,
de Pierre Jolivet

Ma petite enterprise, França, 1999


Se o espectador entra no cinema completamente desavisado (como foi o meu caso), o início do filme de Jolivet passa a impressão de que veremos um drama sobre a perda do controle da vida de uma pessoa absolutamente comum. Filmado com um naturalismo que chega a lembrar (também pelo ambiente da loja de madeiras) os Dardenne de O Filho (sem a câmera excessivamente em movimento), o filme apresenta com bastante carinho seus personagens. Lentamente, vão surgindo sinais de um perturbador e muito inesperado humor, até que o filme se revela: de fato trata-se de uma farsa em torno das questões da dificuldade de sobrevivência financeira do homem moderno.

Mesmo quando a farsa assume o comando do registro do filme, porém, Jolivet nunca perde um cuidado extremo no trabalho dos atores e seus tempos (tanto que o filme levou o César de ator coadjuvante, e teve mais 3 indicações no elenco), onde por mais que se force situações cômicas os personagens nunca perdem sua força, e suas relações nunca se tornam menos trabalhadas. É o inevitável interesse por estes personagens que Jolivet cria no espectador o seu grande trunfo, e ele nunca o abandona, realizando um filme que, modesto em suas ambições, consegue cumprir plenamente um objetivo raro: em nome de algumas risadas, nunca se entrega a uma comicidade barata ou ao descuido com o material profundamente humano e contemporâneo que tem em mãos. Um belo pequeno filme.

Eduardo Valente