Pão e Tulipas,
de Silvio Soldini


Pane e Tulipane, Itália/França, 2000


O sucesso de Pão e tulipas e a sua permanência nas telas cariocas por mais tempo do que se esperava são facilmente justificados por seu caráter profundamente popular. Esse fenômeno, o do cinema popular, existe em toda parte do mundo e não se manifesta somente em superproduções com explosões e atores falando inglês. O que torna Pão e tulipas popular é a total relação que suas situações e seus personagens têm com um universo de facílima aceitação para quem vê novelas: uma trama fácil, que dá lugar a aparições de figuras humanas estereotipadas agindo exatamente conforme o esperado pelo senso comum, o final feliz e espalhafatoso sendo questão de tempo. Assim é fácil.

Quando algum crítico chato diz que o público nunca quis sair do seu limitado campo de compreensão do mundo, sempre se negando a alargar horizontes buscando algo novo, inusitado ou que simplesmente o force a abandonar o ordinário, o coitado do crítico é logo taxado de fascista, elitista, ou coisa pior. A espantosa permanência de Pão e tulipas nas telas só confirma o que o crítico chato diz. É um pouco desanimador constatar que o que chamou a atenção do espectador levando pessoas para ver um filme italiano com jeito de baixo orçamento foi um filme que não tem nada a oferecer além de lugar comum e emoção barata.

Para Pão e tulipas divertir significa simplesmente não desafiar a inteligência de ninguém. É um filme desesperado por aceitação incondicional não se permitindo um mínimo de ousadia estética, temática, ou de qualquer outro tipo. Não, abandonar o marido para viver o amor de sua vida não é ousado. Aceitar que o filho fuma maconha menos ainda assim como condenar o machismo de seu próprio país. O público compareceu às exibições e o mundo continua o mesmo: retrógrado e necessitado de abertura. Pão e tulipas não contribuiu com nada, apenas reforçou os valores já vigentes, trabalhou em cima deles.

Estou exigindo demais de um filme, mas na verdade a decepção é com o público que se incomodou em ir "lotar" salas de cinema para ver algo tão de acordo com o que ele sempre desejou. Isso não é evolução alguma e prova que não é condenável ir perdendo as esperanças na capacidade de renovação criada a partir da demanda.

Viva os chatos!

João Mors Cabral