Os
Herdeiros,
de Stefan Ruzowitzky
(Die Siebtelbauern), Áustria,
1998
O grande questionamento por
trás de Os Herdeiros parece ser: seria possível um
socialismo de fato igualitário de oportunidade e trabalho, ou será
sempre necessário um poder autoritário ditando quem vai
ser mais igual do que quem?? No filme, um fazendeiro morre e deixa sua
terra para os camponeses, o que gerará brigas internas e entre
os outros fazendeiros e estes "novos-ricos". Aparentemente,
para o diretor a utopia entre os iguais (os camponeses) acaba sendo possível,
mas o conflito de classes não pode terminar menos do que trágico.
Para chegar lá, ele
se utiliza de uma narrativa interessantemente estruturada quase como uma
fábula, um conto moral, impressão reforçada pela
narração em off de um dos personagens, como um narrador
onisciente e que comenta a ação. Além disso, ele
joga alguns elementos de absurdo (como o domador de elefantes) e da tradição
do melodrama (filiações desconhecidas) que dão muito
frescor e agilidade à trama. Sua fotografia (em vídeo kinescopado)
busca alguns ângulos inesperados, mas raramente o faz sem uma motivação
narrativa ou de mensagem, nunca se tornando uma câmera exageradamente
auto-consciente. Assim, se não chega a trazer nada de efetivamente
genial ou novo, é um filme feito com clara paixão e que
consegue amplamente interessar e levar o espectador para dentro da situação
e questionamentos propostos.
Eduardo Valente
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