O Jantar,
de Ettore Scola

La Cena, Itália/França, 1998

Descobrimos como é difícil fazer crítica de cinema quando temos pela frente um filme como O Jantar. Não que seja muito complicado decifrá-lo, mas porque é o tipo de filme que tem uma ficha técnica tão perfeita e grandiosa que, mesmo sabendo que não podemos considerá-lo o que há de mais maravilhoso no cinema atual, não podemos ao mesmo tempo tratá-lo como um filme qualquer. Só pelo fato de ser dirigido por Ettore Scola, ele já se diferencia dos outros. Scola tem tradição, sabe filmar, mostrar personagens e compor situações que prendem a atenção. Sua exibição no Festival do Rio desse ano já permitia prever uma futura boa colocação no circuito de filmes de arte.

Filme de Arte. Conceito um tanto vago. Se analisarmos bem O Jantar notaremos que ele não tem nada de verdadeiramente novo, excepcional. Sem dúvida é muito bem orquestrado e divertido, mas não lança novos parâmetros para o cinema. Não é revolucionário, é elegante. O Jantar se encaixa então na categoria de filmes que representam uma alternativa para a banalização da produção, mas nem por isso deixa de ser ele mesmo banal. Isso só acontece porque o mercado exibidor está saturado de porcarias importadas e o público um pouco mais curioso e criterioso sente a necessidade de procurar alternativas para satisfazer sua vontade de consumo cinematográfico diferenciado. O Jantar tapa esse buraco. Ele é essa alternativa às besteiras que nos empurram e o seu êxito não vai além disso.

Sem ser realmente inovador, sem apresentar novos padrões estéticos e temáticos, sendo apenas uma via marginal para o mesmo lugar, o filme e sua colocação nas salas cultas afirmam o estado capenga da produção de cinema colocando-a no patamar de puro entretenimento. E o público aceita, pois isso supre a sua necessidade de revolução sem estardalhaço.

João Mors Cabral