O
Corpo,
de Jonas McCord
The
Body , EUA, 2001
O início do filme com
suas escavações arqueológicas e climas sinistros
lembra bastante O Exorcista e fica a dúvida no espectador
desavisado: será este um filme de terror? Logo, fica claro que
não é o caso, que o segredo que aquela escavação
guarda não tem nada de sobrenatural. Ou melhor, é muito
mais sobrenatural que um demoniozinho de ficção. Diz respeito
à relação mais direta do ser humano com o inexplicável:
religiões e fé. A pergunta central do filme portanto é:
e se o corpo de Jesus Cristo fosse encontrado, retirando dele tudo que
o diferenciou dos humanos, o seu aspecto divino principalmente de sua
ressurreição? O que seria não só da Igreja
Católica como instituição, mas principalmente da
fé de milhões de pessoas?
Pois bem, esta é uma
questão tão completamente fascinante e multi-facetada, que
dificilmente um filme consegue estragar, certo? Não exatamente.
O problema é que o cinema narrativo moderno, especialmente o cinema
ditado por uma suposta relação com o público (suposta
porque prevê um público muito mais idiotizado do que ele
realmente é) não pode permitir que esta que talvez seja
uma das maiores questões que o Homem pode enfrentar, seja por si
só atraente o suficiente para se montar um filme em torno. Não,
precisamos criar uma completamente improvável e ao mesmo tempo
previsível trama de amor, precisamos criar sequências de
ação onde judeus, palestinos e católicos se enfrentem
como se estivessem num autêntico filme policial, em suma, cria-se
todo tipo de distração que parece apagar o verdadeiro ponto
que poderia tornar este filme qualquer coisa de especial.
Assim mesmo, O Corpo não
é um desperdício completo, pela investigação
que permite ser feita da geografia de uma Jerusalém dividida, pela
contemporaneidade que exala das suas ruelas e são captadas pela
câmera. Também não é um desperdício
completo simplesmente por levantar esta dúvida maior: e se?? E
se Jesus Cristo fosse apenas mais um homem? O espectador mais investigativo
vai poder então aproveitar os momentos desinteressantes e sem qualquer
ritmo no desenrolar da história para ficar pensando nisso, e em
quão bom poderia ser um filme sobre este tema. Já é
alguma coisa. Que ao final se esqueça o filme, e se fique com as
perguntas que ele mesmo insiste em menosprezar...
Eduardo Valente
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