O Closet,
de Francis Veber
Le Placard, França,
2001
Francis Veber realiza algumas das maiores
dificuldades de uma comédia com extrema facilidade. Em primeiro
lugar, apresenta seus personagens e as situações essenciais
que o filme explorará com rapidez, agilidade e inteligência,
o que é tarefa das mais complicadas (e na qual o maior dos mestres
sempre será Billy Wilder, cujos inícios de filme são
sempre exemplares). Em segundo lugar, consegue criar piadas realmente
engraçadas a partir destas situações, fazendo uso
de uma direção de atores excepcional, e de um timing cômico
admirável.
Isso dito, trata-se O Closet de um
clássico da comédia? De jeito nenhum. Seus dois maiores
pecados são enganos típicos de um cineasta talentoso, porém
menor. O primeiro é a falta de confiança seja na sua própria
capacidade de narrador ou na capacidade do público de compreensão,
o que leva vários de seus diálogos a soarem expositivos
e longuíssimos. Os personagens falam quando deviam fazer. Se explicam,
e de lambuja, explicitam os temas e opiniões do diretor, que sempre
são tão mais efetivos quanto menos ditos. Em segundo lugar,
cai no equívoco do lugar-comum. Trata de um tema difícil
(o preconceito com os homossexuais) com impressionante leveza, e com uma
falta de preocupação com o politicamente correto que chegam
a surpreender. No entanto cai na armadilha de usar outros e mais graves
preceitos completamente preconceituosos para conseguir adiantar sua trama,
simplesmente usando o gosto comum como guia. Por exemplo, por mais que
na história do executivo que após se assumir gay falsamente
tudo comece a dar certo, fica claro que se seu filho fosse homossexual
ou maconheiro, isso seria uma decepção inaceitável.
Da mesma forma seu grande conselheiro é um velho gay sábio
que parece um personagem altamente simpático, mas que precisa ser
um solitário não realizado que mora com um gato. São
clichês que, ao contrário daqueles que são levados
comicamente e ironizados, ele aparenta levar a sério, e diminuem
suas chances de funcionar.
São detalhes como estes que diferenciam
um diretor de um artesão hábil. Veber certamente é
um destes últimos, de grande timbre cômico. Mas não
possui cacoete de ir mais longe.
Eduardo Valente
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