No
Coração dos Deuses,
de Geraldo Moraes
Brasil, 1999
Pouquíssimas vezes
se tenta pensar um projeto de cinema no Brasil para um público
infanto-juvenil, e menos ainda se ousa arriscar os cânones do gênero
da aventura. Geraldo Moraes se arrisca aos dois com este filme, e se não
se pode negar a importância de uma tentativa destas, não
se pode dizer que seja exatamente bem sucedida. Além da louvável
tentativa de gênero, também se deve destacar no filme algumas
outras idéias como a utilização da pouco filmada
paisagem do Centro Oeste brasileiro e a mistura de História com
presente. Infelizmente parece que a realização não
conseguiu os intentos das idéias.
Isso basicamente acontece
por dois motivos: primeiro o roteiro que é extremamente descuidado
com detalhes como caracterização dos personagens, utilização
dos ingredientes de que se lança mão de forma criteriosa,
lógica interna e ritmo. Esta última (e tão ilusória...)
categoria também reflete o outro problema: a falta de know-how
na utilização de uma linguagem específica como a
do filme de aventura. Assim, o filme tem uma mise-en-scène truncada,
uma montagem claudicante, cenas de batalha mal encenadas. Ao invés
de se buscar uma linguagem tipicamente nossa (como o pastiche dos Trapalhões
por exemplo), se tenta importar uma linguagem pré-fabricada que
simplesmente não dominamos, e o resultado certamente acaba inferior
não por incapacidade, mas por não ser exercitada freqüentemente.
Aí, o filme já mal lançado pela distribuidora, sofre
ainda mais na tentativa de encontrar seu público, uma pena.
O resultado é um filme
com uma finalização muito boa (edição de som,
trilha, fotografia), mas que joga fora o que tem de melhor (a exuberante
paisagem tropical do Centro-Oeste, a utilização da nossa
História e cultura como numa rápida cena em que se usa a
capoeira na briga) em troca de um formato estranho. Apresenta uma série
de situações sem de fato explorá-las, como o romance
do rapaz com a índia, ou os conquistadores espanhóis, como
se tivesse simplesmente seguindo uma cartilha. Nas frestas se pode notar
material bruto para um bom filme, mas que não se realiza.
Eduardo Valente
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