Nêmesis,
de Stuart Baird

Star Trek: Nemesis, EUA, 2002


Todo texto sobre um filme da série Jornada nas Estrelas parece precisar começar com uma declaração de "currículo Trekker" do crítico. Ou seja, é como se fosse necessária a apresentação de uma credencial (ou a ausência dela), antes do início dos trabalhos. Bom, eu da minha parte não tive idade para ser um fã da série de TV original, mas adorava assistir suas reprises em meados da década de 80, na TV Manchete. Chegava a gravar para não perder. Por outro lado, nunca fui fã, ou sequer mesmo espectador, da Nova Geração, que é a que atualmente é retratada no cinema. Vi seus filmes, mas não seus programas de TV. Não tenho relações profundas com seus personagens, portanto. Mas sou um fã contumaz, desde tenra idade, do cinema de ficção científica.

Isso dito, e Nêmesis? Bom, o principal problema do filme é uma profunda incapacidade de surpreender, em qualquer momento. Todas as melhores qualidades da série estão lá: a capacidade de retratar dilemas do momento social atual na trama das personagens (neste caso, a clonagem e suas implicações ético-morais, e religiosas até), a crença no fascínio pelo jogo interno dos personagens e das diferentes raças dentro desse universo particular da série, e uma certa irresponsabilidade em ser "moderno", com tudo que isso possa significar (tanto cenas de ação quanto figurinos, arte, comportamentos, tudo parece meio fora do tempo do cinema atual). Mas, também estão lá os defeitos: um excesso de "mensagem positiva" falada e repetida com todas as letras pela boca do "sábio" Picard, a falta de noção de que o tempo desses personagens passou (mal que afligiu também os últimos anos da série original no cinema), e mais do que tudo: um esquematismo no funcionamento da equação estabelecimento-solução da trama, onde todo episódio acaba parecendo igual.

Por isso tudo, Nêmesis, mais do que ser bom ou ruim, tem um gosto forte de ser "mais um". Acontecem alguns fatos relevantes (e o maior deles, no final, parece uma reedição do segundo filme da série original), outros nem tanto, há algumas boas cenas de ação, outros momentos de muito tédio, alguns cheios de graça, outros completamente deslocados. Mas, à medida que a trama avança, a gente fica com aquela impressão de que sabe onde isso tudo vai dar, o tempo todo. E sobra pouco para se divertir ou se impressionar ou maravilhar. O filme passa, e só. Dificilmente será lembrado amanhã. Aí fica a dúvida: para quê, então?

Três comentários finais, no estilo "ninguém perguntou mas eu falo mesmo assim". Primeiro que é complicado acreditar no vilão principal do filme, por um motivo banal: ele é fisicamente igual ao Dr. Evil interpretado por Mike Myers em Austin Powers. O tempo todo fica-se esperando ele morder o dedinho e dizer "One million dollars..." E será que ninguém percebeu que o vilão-secundário (o Vice-Rei) era muito mais ameaçador e interessante que ele? Então porque só fica lá no fundo grunhindo? Mesmo só grunhindo, o pouco que nós vemos dos olhos dele é mais assustador do que o outro vilão todo (e este Vice-Rei, nós descobrimos, é interpretado pelo ótimo Ron Perlman). E, por último: num momento na sequência final, o Capitão aciona a auto-destruição da Enterprise. Tudo bem que foram cortados 40 minutos do filme, segundo nos informam, mas não podiam ter deixado o momento em que desligam o dispositivo? Eu até agora não entendi porquê ela não fez "cabum". Eu, hein...

Eduardo Valente