Música
do Coração,
de Wes Craven
Music Of The Heart, EUA, 1999
Não é de hoje que se sabe do
projeto de Wes Craven sobre professoras de classe média. O que,
de certa forma, preocupava certos apreciadores do cineasta: ele conseguiria
se sair bem fora do gênero que lhe assegurou grandes êxitos
como As Criaturas Atrás das Paredes, O Último
Pesadelo de Freddy e Pânico? Ou cairia nas regras de
um gênero totalmente estranho a ele, o lacridrama?
De qualquer forma, vendo Música
do Coração, percebe-se que é muito menos um filme
de seu diretor do que se gostaria. Se em parte Wes Craven carrega forte
nos sentimentos diabólicos e nas frustrações patológicas
de Maryl Streep o que de longe constitui o melhor do filme ,
a moleza com que é filmado o inventário de problemas sociais
da escola de uma vizinhança pobre espanta pela indulgência
fácil demais do melodrama (regra do gênero que Craven não
conseguiu superar).
O filme, contanto, toma algumas decisões
bem acertadas: a) o marido fugitivo jamais é visto na tela, o que
garante a ele um estatuto imaginário que diz respeito ao estado
psicológico da personagem de Meryl Streep; b) a postura grossa
e arrogante de Meryl Streep diante das crianças dá o distanciamento
suficiente para não a vermos apenas como a boazinha abandonada;
e c) o beijo com o primeiro namorado pós-casamento é fascinante,
devido sobretudo à excelente atuação de Streep.
Ainda assim, Música do Coração
não consegue fugir do óbvio das situações,
dos fracos momentos catárticos, do fetichismo pelos famosos (Carneggie
Hall, Ithzak Perlman) e do ideal um tanto frouxo de levar a música
clássica ao gueto. A música do filme incomoda por nunca,
jamais ser expressiva. Música do Coração teria
uma chance: unir a música clássica ao som das ruas, o som
da escola ao som que eles ouvem em casa. Violin Hip Hop. Mas isso, entretanto,
não chega ao pobre coração sem música da professorinha.
Ruy Gardnier
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