A Última Profecia,
de Mark Pellington

The mothman prophecies, EUA, 2002


O filme de Pellington faz um esforço para andar numa corda bamba que, recentemente, tem sido explorada com enorme competência por M. Night Shyamalan. Ou seja, bem explicado: "eu vou dar todas as indicações para você de que se trata de um certo tipo de filme de suspense ou horror, vou inclusive assustar você, mas na verdade não tenho nenhum monstro ameaçador para apresentar, e sim questionamentos filosófico-religiosos". A parte que Pellington consegue reproduzir de Shyamalan com sucesso é a que se refere a deixar o espectador tenso e em constante expectativa de que há algo em ação que é maior do que o que podemos imaginar ou ver. Ele filma muito bem, e consegue de fato criar clima com muito pouco.

O que fica faltando no filme é a contrapartida. Porque uma vez que Shyamalan leva o espectador até os extertores do suspense, ele não entrega de volta o que ele espera, e Pellington não chega a ter tamanha coragem. Num certo momento, suas questões tornam-se sim eminentemente filosófico-religiosas, mas aí ele não resiste a um mergulho (com trocadilho, para os que viram o filme) no mais banal cinema de causas e efeitos, de espetaculares ações heróicas, etc. Esta mistura deixa um gosto inequívoco na boca do espectador de que ele foi enganado em um dos dois momentos do filme: ou quando acreditou demais nas considerações levantadas pelo diretor, ou quando achou estar assistindo a apenas mais um filme de horror. Há, certamente, suficiente interesse no que acontece na tela para manter a atenção por duas horas, mas pouco mais sairá da experiência de ver o filme do que isso.

Eduardo Valente