Milagre em Juazeiro,
de Wolney Oliveira


Milagre em Juazeiro, Brasil, 1999

Tudo no filme de Oliveira parece provisório. A começar pelos créditos, que de fato são feitos como legendas e que possuem aparência de algo em desenvolvimento. Depois vêm as encenações da parte "ficcional", onde impressiona a sensação de se estar vendo algo realmente "velho", anacrônico na sua simplicidade, teatralidade, exagero. Os atores em geral parecem fora de tom, quase burlescos (com exceção para alguns momentos de José Dumont, mas principalmente para a máscara que veste Marta Aurélia), a câmera parece colocada quase comicamente em busca de um quadro "rico". No fundo parece um grande ensaio de algo que virá. E assim o filme vai se desenvolvendo, com esta sensação forte.

É fato que o diretor tem mão bem melhor como documentarista, e a parte que se passa no presente tem sim vários momentos interessantes, seja nos depoimentos, seja nas imagens de Juazeiro e da devoção quase cega do povo. No entanto, a articulação entre estas duas partes (ficção e documentário) parece ainda tão embrionária, que só amplia a sensação de algo ainda não pronto, ainda em movimento, em discussão.

Ao final do filme, esta é a sensação que fica: de que vimos algo provisório, de que o próprio diretor ainda poderia fazer um bom filme, seja ele documental ficcional ou misto sobre o Padre Cícero, sobre a beata. Mas este aqui ainda não chega a ser bom, ainda não chega a ser sequer um filme completo. Mas, aparentemente o é, então o que se pode dizer de suas conclusões como obra é apenas isso: incompletas.

Eduardo Valente