Meu Vizinho Mafioso,
de Jonathan Lynn


The Whole Nine Yards, EUA, 2000

Talento. É impressionante como uns podem ter e outros não. Azar de Lynn que, claramente, não tem. Ele parte de um projeto até promissor, de tentar uma comédia amalucada à moda antiga, onde personagens quase cartunescos estão uns atrás de matar os outros indiscriminadamente, em torno de um único homem absolutamente Bom. O tratamento acima do tom naturalista típico da Hollywood atual, prometia pelo menos uma novidade. Só que a falta de talento, graça e timing da direção mata qualquer boa idéia que possa ter existido.

Os créditos iniciais, com uma enorme boca sendo escovada prometem um mergulho no bizarro. No entanto, Matthew Perry, o bom rapaz, mostra mais uma vez ser ator de uma nota só, adequado para uma série televisiva (no caso Friends), mas não para vôos no cinema. O elenco todo a bem da verdade parece o tempo todo constrangido pelas cenas que estão fazendo, Bruce Willis em especial. Rosanna Arquette é um espetáculo de inadequação, e apenas Michael Clarke Duncan (tão monocromático em À Espera de um Milagre) mostra vontade de fazer mais do que o clichê mais óbvio.

O filme cai, aliás em todos os clichês possíveis após um certo tempo, e o público reage com incredulidade ao amontoado de piadas idiotas, gags físicas que remetem ao pior dos Três Patetas. A montagem é um caso à parte, desconjuntada, tem toda a cara de filme reescrito à exaustão até perder qualquer nexo ou remontado às pressas. A trilha completa o serviço em total desencontro com as imagens. Há silêncios que chegam a ser constrangedores, e a vontade sair do cinema é forte em muitos momentos.

Para não dizer que não falei das flores, há uma: Amanda Peet. Boa comediante, linda, consegue fazer da sua personagem a única presença com sentido na tela, com alguma surpresa (até certo ponto, no final desanda). E além de tudo aparece seminua, e meu Deus, que beleza. Pode não ser muito, mas num filme como este é o que dá para se achar.

Eduardo Valente