Meu
Nome É Joe,
de Ken Loach
My Name Is Joe, Inglaterra,
1998
Ken Loach, a esta altura do campeonato, realmente
não precisa estar provando mais nada. Por outro lado, é
um perigo você se encontrar num momento de sua carreira artística
onde tudo que há de mais bem sucedido já é conhecido,
todos os caminhos já podem ser trilhados com a mão atrás.
Repetir eternamente os mesmos filmes é um risco que alguns enfrentam
e superam, às vezes negando ou sempre confirmando diferentemente.
Este é o principal problema de Meu Nome é Joe: Ken
Loach.
Quase tudo no filme já tinha sido
visto no Loach anterior. A capacidade de filmar cada cena na batida do
coração, com um naturalismo quase assustador (Terra e
Liberdade). A simpatia pelos excluídos, pelos párias,
por aqueles atrás de uma segunda chance (Canção
de Carla, Ladybird...). Falar da vida de uma pessoa (micro)
para tocar no macro (Agenda Secreta,...). Com isso é claro
e desnecessário frisar, Meu Nome é Joe perde parte
de seu poder de impressionar.
O que este filme tem de mais interessante
é a presença do herói positivo (Joe), sem que este
pregue uma moral. Ele entrou no AA e parou de beber simplesmente porque
ele se viu monstruoso. Não quer dizer que ele tenha um discurso
com a "correção" a seu lado. Ajuda uma mulher
a injetar (a opção afinal é dela, ele só pode
aconselhar), compreende verdadeiramente o código de ética
do traficante. E impressiona em especial o final, pois é então
que Joe decide seguir o que é "correto" ao invés de compactuar
com o "errado" para salvar alguém. Só que, ao contrário
do que Hollywood ensina, ao fazer o "correto" ele não encontra
a salvação, e sim a perdição. Às vezes
é assim... O final choca a platéia por ser um corte arbitrário
de realidade/ficção. Não há The End, na vida
quase nunca há.
E deve-se destacar ainda as cenas menores,
as cenas sem importância no storyline, pois é nelas que Loach
mostra onde reside seu talento. Como a discussão em torno de um
cigarro no escritório da assistente social; como o roubo das camisas
do Brasil; como Joe de pé em frente a paisagem das highlands enquanto
turistas japoneses tiram fotos. Ali Loach está no seu melhor. Tirando
de momentos aparentemente sem importância grande significado e honestidade.
E a cena da briga do casal, com uma interpretação absolutamente
estupefante de Peter Mullan. No final desta cena, o insulto absolutamente
desumano dela, e as energias dele evadem o corpo, caem. Ele, desnorteado
liga para o amigo, e como acontece tantas vezes, só a secretária
eletrônica atende. Aquele que não se enxergar identificado
ali nunca teve uma relação amorosa. Daí, desta relação
direta com o que há de mais primal no convívio humano é
que Loach tira sua força. E a verdade é que Loach sempre
tem algo a mostrar. Não é diferente aqui, mas as expectativas
hoje já estão um pouco mais altas para ele.
Eduardo Valente
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