Mater
Dei,
de Vinicius Mainardi
Mater
Dei, Brasil, 2001
Espécie de novela mexicana ressentida, com passagens indignas do
mais clássico dos filmes trash, Mater Dei (fora qualquer
crítica ideológica à sua narrativa) é um fiasco.
Não se trata aqui de julgar os ideais antinacionalistas já
tão proclamados pela escrita do roteirista Diogo Mainardi, mas
de frisar a cruel incompetência de realização que
toma todo o filme. Porque, se a intenção da dupla de brothers
era fazer uma crítica cínica ao cinismo brasileiro, podemos
observar que chegaram apenas a uma equivocada comédia de mau-gosto.
Tecnicamente o filme
é uma bomba. Porque se as máquinas estavam lá funcionando,
quem as manuseava não sabia muito bem como chegar a seus objetivos.
Vinicius Mainardi parece ter deixado a cargo de seu brother-roteirista
todo o trabalho de construção de sentidos para o filme:
sua escrita cinematográfica como diretor (montagem, decupagem,
trilha sonora) é de uma inoperância atroz.
As cenas "chocantes"
do filme são tão óbvias que nem o sarcasmo consegue
emergir de seus diálogos. O naturalismo fake do filme não
consegue ultrapassar a barreira do mal-feito, do mal-realizado. Os absurdos
da trama são de tal maneira tratados como Atrações
que não se estabelece choque nenhum entre expectativa do público
e resoluções do filme. O tom de sarcasmo cínico que
Diogo Mainardi emprega a seus artigos de forma habilidosa, é totalmente
perdido pela incapacidade de Vinicius para transportar o mesmo tom para
a linguagem do cinema:
A canalhice dos personagens
é cristalizada de forma muito rápida na narrativa, o que
faz com que o filme não consiga estabelecer nem mesmo a sua crítica.
Os estereótipos dos personagens são tão reforçados
pela direção, que nenhuma atitude de sua parte consegue
ultrapassar a barreira do óbvio. Mais: o grande número de
clichês narrativos acaba por fazer do filme um pastiche de si mesmo.
Cheio de intenções chocantes, o que se tem é um filme
cômico por sua precária tentativa de ser transgressor. A
canalhice estereotipada dos dois irmãos (os personagens...) em
nenhum momento deixa o espectador perplexo, tamanha a obviedade dos diálogos
em querer dizer: "Vejam, eles são anti-heróis canalhas e
interesseiros !"
Se em 16-0-60 (Brasil,
1996), Vinicius consegue estabelecer algumas passagens de farsa é
justamente por uma certa irregularidade do filme. Isso é, em seu
filme anterior, a irregularidade na direção e no roteiro
conseguiram deixar escapar algumas passagens e alegorias interessantes.
Agora, em Mater Dei, Vinicius parece estar mais seguro, mais regular
e, assim, acaba por não cometer o deslize de dirigir boas
cenas... O ápice de um diretor que parece tentar sugar do mote
cínico-jornalístico do irmão a fonte de seu cinema.
Vinícius é um fracasso como sanguessuga.
Se a maioria das críticas
em torno de Mater Dei tem condenando sua postura ideológica
egoísta e simplista, faço aqui o contrário. É
essa a armadilha montada pelos Brothers Mainardi, é disso que eles
vivem: de ser condenados por seu anti-nacionalismo e por seu niilismo
inoperante. A confusão entre personagens e autores é uma
ferramenta para fazer de si-mesmos personagens importantes, protagonistas
de um discurso em destaque.
Pois que ignoremos
seu falatório recalcado. Silêncio. Seu filme merece silêncio.
É triste ver um realizador tirar dinheiro do próprio bolso
para fazer um filme tão precário, tão ingênuo.
Tão precário
que acaba se traindo com uma simplista mensagem humanista, contrária
a todo o discurso do filme. No meio daquela baixaria toda, a figura da
mulher (Carolina Ferraz) e do bebê acabam funcionando como ícones
de um humanismo piegas e inusitado.
O filme todo se conclui
num despropósito. Ficando clara somente uma coisa: a infeliz incapacidade
do brother Vinicius de transformar em filme o discurso que o brother Diogo
conseguiu transformar em sua "grife" e ganha-pão. O "personagem"
Diogo Mainardi (controverso articulista do sarcasmo) se mostra totalmente
impotente diante do Cinema.
Hilário de
tão banal. Digno de piedade (?), e não de raiva...
Felipe Bragança
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