Malena,
de Giuseppe Tornatore
Malena, Itália,
2000
Tudo em Malena já foi visto
antes, em algum outro filme. Muitas vezes, num filme do próprio
diretor. Claro, é tolice achar que, no limiar do século
21, podemos encontrar algo efetivamente original no cinema, uma coisa
se refere a outra que se refere a outra... No entanto, o caso deste filme
é um pouco mais complicado, pois não se encontra nada de
efetivamente original, a não ser talvez a mistura de tantos assuntos
já batidos. Sim, porque dependendo do enfoque escolhido, Malena
pode ser sobre uma série de coisas. É um filme sobre o rito
de passagem de um rapaz da infância para a adolescência. É
um filme sobre uma mulher desafiando o provincianismo de uma cidadezinha.
É um filme sobre o amor platônico de um garoto por uma mulher
inatingível. É um filme sobre a vida cotidiana de uma cidade
em circunstâncias excepcionais (a II Guerra). Como se disse, cada
um destes filmes já foi visto uma série de vezes. Inclusive
na própria obra de Tornatore, é impossível não
pensar um pouco em O Homem das Estrelas ou no próprio Cinema
Paradiso.
O que dá a Malena algum interesse
é o extremo domínio de Tornatore da linguagem cinematográfica,
sua capacidade de tornar imagens e sons em um universo muitas vezes mágico.
Quando ele coloca sua câmera quase sempre ligada ao jovem protagonista,
e extrai dele uma bela performance, consegue uma empatia com o público,
mesmo cercado de clichês os quais ele nunca desafia. Há cenas
onde os italianos parecem tão estereotipados que fica a impressão
que, se fosse um filme estrangeiro, seria alvo de protestos. Das duas
uma: ou Tornatore realmente resolveu apelar para uma imagem universal
dos seus conterrâneos para satisfazer as expectativas dos produtores
na Miramax, ou os italianos são exatamente como as piadas indicam.
O mais provável é um meio caminho entre os dois: o exagero
italiano procede, mas é importante realçá-lo. A fotografia
e a música são realmente estupefantes, em alguns momentos
excessivamente, até. Mas, o trabalho de iluminação
deve ser destacado, criando um clima onírico em quase todas as
sequências, que serve bem ao olhar do jovem rapaz.
No entanto, lá pela metade o filme
torna-se completamente repetitivo, e o espectador já sabe que não
tem mais o que esperar de diferente do que a narrativa indica até
aquele momento. Tornatore, como em todos os seus filmes, recorre a imagens
claramente "poéticas", mas é irregular no sucesso
em atingi-las. Enquanto as imagens do garoto numa formação
rochosa belíssima ou numa carcaça de barco atingem os objetivos,
as cenas referentes a filmes clássicos como sonhos dele acabam
resultando anticlimáticas. Talvez o mais interessante do filme
seja de fato o tratamento da História como apenas circunstâncias
que movem as pessoas (as referências parecem vir sempre do rádio
ou ao fundo da cena, afetando a cidade menos do que os dramas pessoais
de cada um) e o retrato da violência inerente a uma comunidade pequena
e preconceituosa. As cenas em que a personagem de Malena caminha pela
cidade, provocando as reações diferentes entre homens e
mulheres são os pontos altos do filme. Ao final, uma sensação
de um filme bem urdido, trabalhado por pessoas que entendem do riscado,
mas que deixa o amargo gosto na boca: porque filmar mais este filme?
Eduardo Valente
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