Loucos do Alabama,
de Antonio Banderas


Crazy in Alabama, EUA, 1999

Antônio Banderas estréia na direção com uma seqüência no mínimo promissora, onde ele subverte todas as expectativas com uma cena quase absurda introduzindo sua narrativa. Daí em diante, o filme se divide em dois, para seu bem e para seu mal. A primeira divisão em dois é a quebra da estrutura em duas narrativas paralelas: a mulher que foge para ser atriz em Hollywood após matar o marido castrador; e o sobrinho deixado para trás no Alabama que enfrenta a luta pelos direitos humanos em plena década de 60. Essa divisão é boa porque ambas as narrativas não perdem o pique nem o frescor, e as situações se sucedem numa saudável mistura de realismo quase fantástico, farsa, intervenção da História. No entanto, existe uma segunda fase do filme com o retorno da tia, e esta segunda divisão não funciona, pois o filme perde seu caráter de inesperado para um desnecessário julgamento que em nada acrescenta ao filme.

Como diretor, Banderas usa a mesma palheta quente e colorida de seu mestre Almodóvar, e cria pelo menos uma cena belíssima, uma descrição puramente visual da segregação racial, vista do fundo de uma piscina. Com os personagens ele também demonstra muito carinho, e o trabalho com os atores é muito bem resolvido, principalmente com o jovem Lucas Black e o cínico Rod Steiger em participação pequena como o juiz. O filme tem mais idéias do que a média, sendo que a principal parece ser justamente uma divisão em dois, natural na vida da maioria: a esfera pessoal e a intervenção na sociedade que cerca uma pessoa. No filme de Banderas, para se receber a liberdade, vista como bem supremo, às vezes é preciso matar e às vezes é preciso morrer, o que é uma tese talvez discutível, mas que somente por estar fazendo um suposto "divertissement" para os estúdios hollywoodianos, e temperá-lo com uma visão de mundo pessoal, já se pode dizer que Banderas estréia bem na direção.

Eduardo Valente