A Liga Extraordinária,
de Stephen Norrington


The League of Extraordinary Gentlemen, EUA, 2003

Baseado uma HQ de Alan Moore (que é tanto uma "reimaginação" do conceito de grupo de super-heróis quanto sua mais famosa Watchmen), o principal fascínio deste filme está, sem dúvida, nas suas cenas iniciais, quando somos apresentados aos personagens (todos vindos da literatura clássica) que formaram a Liga do título. Existe uma atração realmente juvenil de ver a união de uma série de personagens clássicos da literatura em um grupo para combater o Mal (embora, fique a pergunta: e o Tarzan? e o Frankenstein?). No entanto, não seria pedir demais dos produtores, roteiristas e diretor que conseguissem criar uma ameaça levemente mais interessante, ou mesmo uma história com um pouquinho mais de sentido do que a que assistimos. Não é o caso, por motivos óbvios, de se pedir verossimilhança, longe disso. Mas sim que se desenvolva a partir destes personagens uma dinâmica com um mínimo de interesse, novidade ou presença. Dinâmica esta que não acontece nem por um momento, seja dramaturgicamente, seja no que tange a linguagem cinematográfica.

A Liga se mostra um filme extremamente chato e repetitivo com menos de meia hora de duração, e parece especialmente um desperdício que, com personagens tão ricos e atores interessantes nas mãos, Norrington se limite a ficar brincando de efeitos digitais, explosões e barulhos altos. A impressão que se tem é que o estúdio se deu conta de que os personagens que escolheu não possuem qualquer relação com a garotada que vai ao cinema hoje em dia, que seu fascínio inato ficava por conta de um grupo de pessoas que não fazem muita diferença numa briga por bilheteria no verão americano. Por isso, o filme parece brigar o tempo inteiro para fazer com que estes personagens desapareçam por trás de uma trama descerebrada e sem qualquer lógica interna, em nome do máximo de cenas-padrão de ação possível. São constrangedoras as cenas no submarino Nautilus na primeira viagem do grupo, onde tenta-se estabelecer a fórceps uma dinâmica de relações (amorosas, de pai e filho, inimizades, desconfianças) entre os personagens que é a mais óbvia possível, e o que é literatura da melhor se torna pastiche dos piores. A Liga não acerta quase nunca em quase nada, depois dos primeiros 15 minutos, e é realmente decepcionante pela riqueza do material em mãos – a grande dúvida que fica é porque adaptar esta história se se vai brigar com ela o tempo todo.

Eduardo Valente