Lara
Croft - Tomb Raider,
de Simon West
Lara
Croft - Tomb Raider, EUA, 2001
Sob inúmeros aspectos, Lara Croft é um símbolo
do seu tempo. Confesso que eu nunca joguei o "videogame" do qual se origina
o filme, portanto não é possível que busque uma análise
comparativa entre as duas manifestações. No entanto, independente
da comparação, o fato é que o filme se estrutura
excepcionalmente como um jogo, e um cujo único detalhe é
que não há um "joystick" na mão do espectador. Mas
é por pouco.
Em um resumo bem direto,
o filme de Simon West é um impressionante furacão rítmico-visual,
construído aliás com um surpreendente rigor fotográfico
especialmente no trabalho da iluminação, no jogo de cores
frias e quentes e no trabalho rebuscado da direção de arte
(a casa de Lara é uma melhoria da Mansão Wayne dos filmes
do Batman). E que objetiva um resultado somente: que o espectador não
tenha tempo para pensar muito. Porque sob esta forma acachapante de sequências
de ação com "takes" que duram em média 0,5 segundo,
não sobra tempo para mais nada a não ser sentar e se deixar
levar.
A história
não faz o menor sentido, os personagens não fazem o menor
sentido (parecem habitar um universo distante onde lógica não
possui importância, como num "videogame"). O importante é
passar de fase, após vencer os obstáculos de cada uma. Que
não se negue: nisso que objetiva, o filme é extremamente
bem sucedido, e constrói algumas antológicas sequências
de ação, como a da invasão da casa de Lara pelos
pára-militares (meu Deus, de onde vêm estes soldados?? Ops,
não devemos perguntar nada...).
Mas a sensação
que fica é de completa inadequação do espectador
à modernidade. Lara Croft só deve ser entendido pelos
que já têm seu cérebro funcionando na velocidade e
na lógica particular que segue. Aos outros, resta apenas a exclusão.
Fica uma nostalgia estranha dos tempos de um outro arqueólogo chamado
Indiana Jones, que não era super-humano, e que resolvia seus pepinos
com muito bom humor e malandragem. E fica acima de tudo a impressão
de que para se fazer um filme de ação hoje em dia bastam
dois ou três elementos simples, como um par de seios impressionantes
(que distraem completamente da trama...), ruidagem constante criando tensão,
e muitos, muitos cortes. Game over.
Eduardo Valente
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