Johnny
English,
de Peter Howitt
Johnny
English, Inglaterra, 2003
Talvez o fato mais curioso deste veículo para o humor de Rowan
Atkinson (o mr. Bean da TV) seja justamente a direção de
Peter Howitt, que foi o responsável pelo filme De Caso com o
Acaso, uma comédia romântica que, se não era nada
de fantástico, indicava um olhar que se supunha mais autoral e
de viés completamente diferente deste aqui. Partindo de uma daquelas
manjadas sacadas de se colocar um personagem em dissonância com
o seu ator (e no caso específico da espionagem temos dois exemplos
recentes com Leslie Nielsen em Duro de Espiar e Jackie Chan em
O Terno de Dois Bilhões de Dólares), o filme tenta
se sustentar quase o tempo todo em torno da graça que possa haver
na figura de Atkinson interpretando um supostamente elegante, refinado
e infalível agente secreto. Trata-se sempre de um senhor desafio,
este de conseguir manter uma mesma piada em funcionamento por hora e meia,
e neste ponto, diga-se, o filme é bem sucedido.
É bem sucedido
por dois motivos principais: o primeiro é não ter vergonha
alguma do que se pretende ser, e com isso optar por ir tão longe
quanto o absurdo inicial (quem afinal contrataria um completo paspalho
como agente secreto?) permita. Nisso lembra inclusive o primeiro Corra
que a Polícia Vem Aí!, até pela presença
mais uma vez da figura da rainha da Inglaterra. Nesse quesito da falta
de vergonha, uma presença destacada é a de John Malkovich,
se divertindo muito fazendo um personagem francês que se comunica
o tempo todo em inglês (portanto, criando um sotaque para falar
em sua língua natal). O outro ponto, é que Howitt não
se contente com a quantidade de gags banais que Atkinson cria por si só,
e encena algumas sequências muitíssimo bem resolvidas e com
ritmo espetacularmente funcional, como a perseguição de
carros usando um guindaste (idéia ótima que nenhum filme
de ação usou), ou a cena do cemitério. Atkinson é
um especialista do humor físico e da "careta", como seu Mr. Bean
faz saber, mas também demonstra domínio do timing da piada
falada.
O resultado final
é um filme que, se não é marco algum na história
da comédia, consegue a proeza de, partindo de um pressuposto batidíssimo
e que corria o risco de se tornar motivo para uma mesma piada durante
hora e meia, mantém o espectador entretido e, principalmente, com
um sorriso no rosto durante quase toda a projeção.
Eduardo Valente
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