O Jogo dos Espíritos,
de Marcus Adams

Long time dead, EUA/Inglaterra, 2002


Talvez o mais interessante em O Jogo dos Espíritos seja menos tentar procurar sinais de um filme bom em algum lugar e sim tentar compreender os misteriosos meandros da distribuição de filmes no Brasil, que relega tantos trabalhos muito mais atraentes ao completo ostracismo enquanto nos presenteia com esta autêntica produção de segunda, que não ficaria nem um pouco deslocada estreando no Supercine da Rede Globo.

As inconsistências do filme são inúmeras. Já no início, o formato do "assassino à solta assombrando um grupo de jovens" dá sinais de esgotamento, especialmente pós-Pânico, afinal o filme de Wes Craven (e suas continuações) deu conta de todos os clichês e construções habituais do gênero. Agora, fica ainda mais difícil tentar ver um filme sobre o tema cujos personagens levem realmente a sério aquelas mesmas convenções e armadilhas que foram postas a nu, deglutidas e recontextualizadas na série. O filme, só por isso, já parece uns dez anos atrasado.

Além da questão dos clichês exagerados (tanto narrativa quanto esteticamente), que dão ao filme a sensação de um "melhores momentos" de muitos clássicos do gênero, o filme sofre de uma séria falta de talento da parte do seu diretor. Porque, apesar de todo o esquematismo, há aqui espaço visível para que fosse feito, no mínimo, um filme digno. Mas a história subaproveita todos os seus personagens, todas as tramas levemente intrigantes, todos os seus elementos potencialmente assustadores em troca de sustos tão fáceis que nem chegam a sê-lo. O fato é que o filme só consegue ser assistido com uma dose cavalar de ironia nos olhos, e muita vontade de rir. Tanto que quando se chega aos planos finais, surpreendentemente interessantes, já não há mais qualquer possibilidade de terem efeito algum no sonolento espectador. Um desperdício.

Eduardo Valente