Olhos
Famintos,
de Victor Salva
Jeeper's
creepers, EUA, 2001
Talvez o mais fascinante aspecto por trás de Olhos Famintos
seja o simples fato de que o estejamos vendo nos cinemas, que ele seja
um grande lançamento de um estúdio americano. Porque a filiação
do trabalho é, inegavelmente, outra. Trata-se de um autêntico
"filme B", um filme de horror dos mais baratos, com pouquíssimos
personagens, pouquíssimas locações, pouquíssima
lógica, pouquíssimos efeitos, nenhum ator sequer perto de
ser conhecido. E isso está longe de ser uma reclamação,
pelo contrário. O filme possui por tudo isso mesmo um grande frescor,
algo que o diferencia do suposto "padrão hollywoodiano de qualidade".
Já o início
é a prova disto, com uma longa sequência onde os personagens
fazem muito pouco para introduzir a si mesmos ou a qualquer resquício
de trama. Isso seria considerado contraproducente na linha de produtos
hollywoodiana. Para que uma sequência tão longa assim? A
resposta é uma palavra: clima. Pois é, o que o filme possui
que o diferencia da média da grande produção é
este conceito tão fácil de entender e tão difícil
de explicar. O diretor usa um clichê do cinema americano, o dos
rincões e estradas perdidas como locais de acontecimentos e pessoas
estranhas, de lendas, assassinatos e maldições, e basicamente
repete a tecla pela duração do filme. E funciona. Você
sabe que está num filme diferente quando no final um dos mocinhos
morre, sem qualquer problema, quebrando aquele "acordo surdo" dos filmes
de terror onde sabemos de saída quais personagens vão morrer
até o fim da trama e quais sobrevivem. Também esperamos
alguma lógica na solução dos crimes, mas coitados
de nós. Aqui Salva está mais perto do horror "físico"
do cinema europeu, onde importa é o medo e não a explicação
(por exemplo: porque um demônio ouviria musiquinhas numa vitrola??).
E se o resultado não tem a suntuosidade visual e estilística
dos representantes mais legítimos deste gênero, ao menos
possui o suficiente para interessar aos fãs não só
do terror, mas do cinema filmado com disposição.
Eduardo Valente
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