A
Hora do Rush 2,
de Brett Ratner
Rush hour 2, EUA, 2001
Certamente existia
uma forma de ver Hora do Rush 2 antes e outra depois dos acontecimentos
de 11 de setembro de 2001, e tudo que se seguiu a eles. Antes ele podia
ser visto como um negativo perfeito do primeiro filme, ou seja, as mesmas
situações e estrutura, só que ao contrário.
O que antes acontecia ao policial de Hong Kong (Jackie Chan) deslocado
na América, agora acontece ao policial americano (Chris Tucker),
deslocado em Hong Kong. O filme é, como sempre, apenas uma desculpa
para sequenciar o máximo de cenas de ação do mago
da improbabilidade e da coreografia que é Jackie Chan, e para Chris
Tucker ampliar sua homenagem-escracho com o típico policial negro
e abusado que Eddie Murphy consagrou nos anos 80. Como tal, podia ser
considerado um divertimento dos mais competentes e azeitados, acertando
todos os pontos que desejava atingir.
No entanto, após
11 de setembro, a dúvida principal é: este filme seria sequer
considerado para ser feito, ou lançado? Primeiro, a trama possui
prédios que explodem e terroristas entregando correspondências
indesejáveis. Não são exatamente cenas que os americanos
pareçam muito confortáveis em encenar a estas alturas. Mas,
principalmente, parece proibido o retrato jocoso do FBI sempre como uma
polícia metida a besta, e no fundo altamente ignorante das "coisas
da vida", algo que iria diretamente em confronto com o momento em que
o mesmo FBI precisa ser louvado até mesmo para que se acredite
que ele é capaz da tarefa que lhe foi imposta: proteger a nação.
Da mesma forma, existe no filme um retrato brincalhão e auto-crítico
do excesso de confiança e arrogância do americano fora de
casa, em relação aos costumes estrangeiros, que certamente
soaria inadequado ao novo manual do "politicamente correto", pós-WTC.
É interessante
poder pegar este que foi um dos últimos filmes classicamente de
ação e entretenimento lançados antes de 11/9 para
se ver o que podemos estar procurando para tentar entender o quanto a
realidade vai mexer com este imaginário que é tão
intrinsecamente parte da sociedade americana. E, assim, o que era só
diversão ganha contornos inesperados, e o cinema mostra de novo
como são ricas suas aproximações com a realidade
que o cerca, sempre.
Eduardo Valente
|
|