Homem-Aranha, de Sam Raimi
Spiderman,
EUA, 2002
O Homem-Aranha
é um dos super heróis dos quadrinhos com maior fama, e a
sua história é conhecida por todos: rapazinho nerd
tem contato com uma aranha bizarra – nos quadrinhos ela era radioativa,
no filme, atualizado, ela é modificada geneticamente – e ganha
superpoderes. A partir daí, sempre pautado pelo mote "com
um grande poder vem uma grande responsabilidade" o mocinho sai pelas
ruas de Nova Iorque, sua cidade natal, a lutar contra o crime. Mais uma
(mais uma...) história de super heróis; quando de seu aparecimento,
e parece que isso não é mais novidade para ninguém,
o diferencial da personagem era o fato de ser um herói conectado
com seu tempo e com os problemas de sua idade. Sempre atrasado para todos
os lugares, Peter Parker tenta conciliar, sem muito sucesso, as atividades
de fotógrafo, aluno de Universidade, namorado, sobrinho dedicado
e inimigo número um do crime. Daria um filme. Pois depois de X-men
(X-men, 2001), dirigido por Bryan Singer e sucesso absoluto no mundo inteiro,
Hollywood resolveu apostar nos quadrinhos; além deste recém-lançado
Homem-aranha, estão sendo produzidas/filmadas fitas de várias
outras personagens vindas de HQs: Hulk, Demolidor (a atriz a fazer o papel
de Elektra nesse último, Jennifer Garner, aliás, assinou
contrato para não apenas um filme, mas também para um spin-off
só de sua personagem), além da seqüência de X-Men
e o prestes a ser lançado aqui Blade II .
Mas,
vamos ao nosso Homem-Aranha. O diretor, Sam Raimi, realizou um filme honesto
e divertido. O resultado final convence, e o pulo do gato da direção
foi justamente ter conseguido usar o visual HQ a seu favor, e não
contra si mesmo, o que costuma acontecer quando se trata desse tipo de
adaptação para o cinema; isto é, o diretor se aproveita
ao máximo dos ângulos dos quadrinhos, de sua estrutura diegética
para construir seu filme, como quando Peter desenha seu uniforme ou ainda
quando começa a lutar contra o crime, tornando-se manchete de jornais.
As cenas de ação, um desafio, pois que corriam o risco de
parecer ridículas – é preciso convir que o uniforme do Aranha
é, no mínimo, engraçado -, aquelas em que o herói
se dependura nos prédios à procura dos criminosos são
visualmente frenéticas, mas não chegam a ser exageradas,
do tipo montanha-russa visual, e parecem ser mesmo a única possibilidade
de transposição para o cinema dos movimentos de uma tal
sorte de herói.
O romance
entre Parker e Mary Jane (Kirsten Dunst, a garota camiseta-molhada) é
bem explorado, e o fato de existir também essa dimensão
na vida dele ajuda no êxito do filme; a escolha de Tobey Maguire
para o papel principal não poderia ser mais acertada: com sua voz
de eterno adolescente e rosto de menino ele encanta tanto os garotos,
que se identificam com seu tipo atrapalhado, deslumbrado, como as garotas,
por esses mesmos motivos, aliados, nesse caso, à bela figura do
ator. Todo o resto do elenco foi bem escalado, e tudo parece funcionar
bem, à exceção da música, de Danny Elfman,
que não consegue criar uma identidade para o herói.
Mas tudo
isso junto parece ainda não explicar o sucesso do filme, pois não
se esperava que ele fizesse um tal estrondo, tendo números impressionantes:
cerca de 110 milhões de dólares no primeiro fim-de-semana,
marca recorde no cinema. Há uma pista que talvez possa nos ajudar
nessa explicação: talvez o maior responsável pelo
sucesso do filme seja mesmo o fato de ter saído exatamente no momento
certo e contendo os elementos mais pertinentes possíveis; há
uma cena perto do fim em que o herói está literalmente preso
por um fio a uma ponte e na qual seu inimigo, o Duende Verde (Willem Dafoe)
vai matá-lo. Tudo parece perdido, mas então eis que o povo
da cidade se une e começa a lançar projéteis contra
o malvadão, salvando o Aranha. Um deles chega a gritar: "Ei,
quem mexe com um de nós mexe com todos!". É esse o
recado do povo de Nova Iorque – a quem será ele dirigido?
Bem,
talvez o motivo do sucesso de Homem-Aranha seja mesmo que Peter Parker,
o rapaz esforçado, dedicado, boa-gente em todos os sentidos e que
usa seus superpoderes, é preciso lembrar, de modo responsável,
como bem indica seu mote, o vizinho amigável da cidade, que na
última cena se pendura no mastro de uma bandeira americana que
tremula, seja exatamente o tipo de herói que Nova Iorque precisava/esperava
ver após os atentados de 11 de setembro.
Juliana
Fausto
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