Lembranças
de um Verão,
de Scott Hicks
Hearts
in Atlantis, EUA, 2001
Até há um certo tempo, uma adaptação para
cinema de um texto de Stephen King era garantia de um espetáculo
de suspense ou terror. Durante os anos 80 e 90 dezenas de suas obras foram
transpostas para o cinema. Independente de suas qualidades literárias,
o universo do autor fascinava até grandes diretores como Kubrick,
De Palma, Carpenter ou artesãos como Rob Reiner e Frank Darabont
que souberam utilizá-lo como matriz para ótimos filmes.
Só que, recentemente,
uma adaptação de King virou sinônimo de filme bem
intencionado, onde um personagem recorda algum episódio que marcou
sua vida e é nessa linha que se encaixa este Lembranças
de um verão. O argumento em si parece uma salada de outros
assuntos já explorados. Então vejamos: escritor de meia
idade recebe a notícia da morte de um colega (Conta comigo),
regressa ao lar de sua infância e relembra sua amizade com um estranho
senhor (O aprendiz), dotado de poderes paranormais (À
espera de um milagre).
O roteiro, sem qualquer
sutileza e centrado em um garoto órfão de pai e desprezado
pela mãe, é assinado pelo veterano William Goldman, que
parece ter esquecido tudo que aprendeu após quatro décadas
no ofício e dois Oscars, que lhe tornaram um dos mais respeitados
roteiristas de Hollywood. Seu trabalho para Lembranças de um
verão parece ter sido produzido por um inexperiente decorador
de manuais. No elenco, Anthony Hopkins defende burocraticamente o leitinho
das crianças, fazendo de seu personagem uma versão boazinha
de Hannibal Lecter.
Na direção
temos o australiano Scott Hicks, que há cerca de 5 anos, com seu
filme de estréia, Shine, foi considerado (parafraseando
os Titãs), "o jovem diretor genial da última semana".
Com Lembranças de um verão, que é seu terceiro
filme, Hicks parece ter dito realmente ao que veio, utilizando sem cerimônias
todos os recursos batidos para desenvolver um clima de desagradável
pieguice e que condenarão os que deles se aproveitam indevidamente
a uma temporada ardendo por séculos no fogo do inferno: fotografia
maneirista, música melosa, câmera lenta nas cenas de suposta
emoção, diálogos com frases feitas e lições
de vida e - este último triplica a pena - crianças chorando.
Gilberto Silva Jr.
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