Gêmeas,
de Andrucha Waddington
Gêmeas, Brasil, 1999
Gêmeas é o segundo longa-metragem
da Conspiração filmes. Deveria ter sido um dos curtas que
integram o primeiro filme da produtora, Traição.
Waddington preferiu realizá-lo como um filme único, de maior
duração, mas o projeto é o mesmo: fazer filme a partir
de contos de Nelson Rodrigues feitos para jornal, tipo de ficção
já realizada em televisão pela TV Globo como o quadro A
Vida Como Ela É. Gêmeas, entretanto, pretende ir mais
longe: realizar um filme inteiro a partir de um único relato do
dramaturgo da Aldeia Campista. O tema é supostamente rodrigueano:
duas irmãs gêmeas idênticas, uma costureira saidinha
e outra bióloga mais certinha, trocam de identidade e ficam confundindo
os namorados que arrumam. Só que uma, obrigatoriamente, tinha que
se apaixonar e querer o namoradinho só pra ela, enquanto a outra
quer dividi-lo. Daí o único argumento do filme, revelado
desde o começo e jamais evoluído nos sessenta e poucos minutos
de sessão.
Gêmeas, nota-se logo, é
refratário do trabalho publicitário de Andrucha Waddington
pela conspiração. Os interesses do filme parecem só
cumprir uma função de eficácia publicitária:
a direção de arte, a cenografia são bem cuidadas,
a fotografia é incisiva com a dos spots de televisão, enfim
nada parece superar a necessidade de eficácia. O interesse por
expressividade parece ser, então, uma quimera. A se notar pelo
trabalho de Fernanda Torres: mesmo que em Gêmeas ela tenha
que se desdobrar por dois personagens, nada consegue em algum momento
chegar perto da espontaneidade do trabalho realizado em O Primeiro
Dia de Walter Salles e Daniela Thomas. Ao contrário desse último,
sua interpretação é apenas esquemática e eficiente,
mas pouco criativa. O principal motivo da falência estética
de Gêmeas, e a partir dele seus derivados, é a ausência
de uma proposta estética, ausência de uma dramaturgia e de
uma idéia de cinema. O que temos, desde o começo do filme
até seu fim, é um grande potfólio técnico,
uma mais-valia "cultural" para uma já bem sucedida empresa
de audiovisual publicitário. Daí o tom de veleidade que
Gêmeas passa: nunca há sangue, nunca há suor
nem lágrimas. Talvez uma publicidade bem-sacada seja possível
fazer dessa forma. Mas em cinema o negócio é mais embaixo.
Ruy Gardnier
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