A
Garota do Rio,
de Christopher Monger
Girl
from Rio, Espanha/Inglaterra, 2001
Não há dúvida, afinal trata-se de um filme sobre
um inglês que vem para o Rio procurar uma famosa dançarina
de samba para viver o seu sonho dourado, e acaba envolvido com traficantes,
e enganado por um taxista carioca vivido por um ator espanhol. Não
sendo um episódio dos Simpsons, o espectador pensa que não
tem como errar: diversão garantida com um daqueles grotescos retratos
estereotipados e completamente sem nexo, exploratórios das nossas
paisagens e riquezas (mais exatamente: bundas e samba). Infelizmente,
quem se dirige ao cinema com esta expectativa terá aqui uma decepção:
o filme é bem menos ruim do que poderia fazer pensar. Só
que sem nunca chegar a tentar ser de fato bom. Ou seja, está destinado
ao esquecimento mais completo, nem mesmo no panteão de um Orquídea
Selvagem ele ganhará fama.
O início do
filme, em si, é tão clichê quanto se poderia esperar.
O retrato da rotina como inferno pessoal do bancário inglês
não desperdiça qualquer oportunidade: xingamentos pelo patrão,
pega chuva na rua, compra árvore de Natal que é destruída
no ônibus lotado, sua mulher o despreza, e ainda o trai com o patrão
que ele odeia. Ou seja: nada pode salvá-lo além de roubar
um banco e vir para o Rio de Janeiro encontrar sua dançarina de
samba favorita. Bastante promissor na linha do ridículo, o filme
por incrível que pareça ganha certo ritmo e graça
ao chegar no país. A trilha se revela bem menos picareta do que
se poderia esperar, com uso de desde O Rappa até Fernanda Abreu
(o que garante pelo menos um tom levemente contemporâneo ao filme),
o diretor (e seu protagonista) revelam um inesperado "timing" cômico,
as paisagens do Rio são bem trabalhadas entre o cartão postal
e outras mais inesperadas, e mesmo o taxista ser interpretado por um espanhol
passa batido pelo golpe dele falar inglês com o gringo quase o tempo
todo. Claro que o traficante é um absurdo personagem interpretado
por um afetado Nelson Xavier, mas o que se esperava exatamente de uma
comédia nesse tom: comentário social?
No fim das contas,
a fábula acaba até conquistando a simpatia do espectador
tal a sua mistura de falta de pretensão e algum cuidado em ser,
senão respeitoso (que não cabe exatamente como conceito),
pelo menos não explorador da paisagem e costumes do local onde
filmam. O filme parece exalar um verdadeiro carinho pelo Rio e pelo Brasil,
e não só aquele estereótipo do "local paradisíaco
com um povo muito estranho". Não se encontra qualquer surpresa
efetivamente positiva, mas também não há motivos
para maiores irritações. O que pode decepcionar alguns que
forem ao cinema.
Eduardo Valente
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