A
Mão do Diabo,
de Bill Paxton
Frailty,
EUA, 2001
Em alguns momentos, parece que Bill Paxton está prestes a fazer
um bom filme, ou no mínimo um filme interessante. No entanto, cada
vez que isso parece estar prestes a acontecer, ele toma o caminho contrário
do que poderia sequer passar perto. Logo no início um homem entra
num escritório do FBI e começa a explicar um crime para
o policial. Qualquer um que tenha assistido a Os Suspeitos, ou
na verdade a qualquer filme na vida, sabe que aquele depoimento não
tem nada de idôneo. A idéia de um flashback comandado por
um personagem, onde imagens se passam por "verdade" quando são
apenas "invenção" são, mesmo assim, o centro nervoso
de um filme como Spider, de David Cronenberg, que tarabalha com
sutileza esta situação. Embora essas associações
venham à mente, porém, a verdade é que Paxton faz
o uso mais simplório possível deste artifício. Talvez
porque Powers Boothe como o agente do FBI pareça saído de
um mau filme Z, ou porque Matthew MacConaughey simplesmente pareça
estar esperando a chance de pegar o contracheque, mas a conversa entre
os dois, e toda sua encenação, soam absolutamente anticlimáticas.
Nos resta então
o flashback em si. Mas ele também é completamente equivocado:
encenado de forma bastante truncada e sem qualquer charme ou suspense,
faz com que a história se prolongue por um tempo longuíssimo
nas mesmas questões e dilemas, que se esgotam rapidamente. Na verdade,
aqui o filme levanta uma pergunta que parece ter repercussões muito
interessantes: o que uma criança deve fazer quando não consegue
acreditar no que o pai tenta lhe dizer? Só que aquilo que devia
ser angustiante é usado apenas como muleta para um suspense que
nunca acontece.
O espectador assiste
a tudo envolvido pelo mais profundo desinteresse, e a maior surpresa do
filme (lembrando de novo de Os Suspeitos) é ver que ele
de fato tem a cara de pau de estar se encaminhando para a "reviravolta"
final que todo e qualquer espectador adivinhou lá pela meia hora
de filme. E a trata como se fosse uma enorme surpresa e, verdadeiramente,
a grande idéia do filme. Ora: quando a grande idéia de um
filme é uma reviravolta surpreendente que todos esperam, e quando
sua "lição" final parece estar nos dizendo que se a polícia
estiver executando pessoas por aí, talvez possa ser por ela ter
uma missão divina de eliminar demônios da Terra, bem, este
é um filme estranho a beça. Mas, por todos os motivos errados.
Paxton deve continuar com sua carreira como ator, urgentemente.
Eduardo Valente
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