Formiga nas Calças,
de Marc Rothemund

Ants in the pants, Alemanha, 2000


Confesso que enquanto estava entrando na sala de cinema para ver este filme já tinha em mente a clara noção de que estava me metendo numa roubada. Pecado sério a quem se propõe a analisar um filme, seja uma comédia despretensiosa ou um ensaio artístico. Mas como ignorar que a única referência que eu tinha do segundo longa de Marc Rothemund era que pretendia ser uma resposta ao americano American Pie, espécie de ressurgimento da série Porky's dos anos 80? Como esquecer que os alemães são pouco afeitos às sutilezas, ao contrário do que dizia o folheto do Arteplex, que uma comédia adolescente pode inspirar? O fato é que entrei na sala esperando o pior, apesar de certa boa vontade de encontrar algo que escapasse à constante do gênero.

Começa o filme e já tenho o primeiro baque: o filme é dublado pessimamente em inglês. Penso que é uma tiração de sarro. Então vêm os créditos, todos em inglês. Percebo que vai ser uma parada difícil. Filme alemão buscando o mercado americano. Curiosamente o filme foi um dos maiores sucessos de bilheteria da Alemanha. Lembro, a propósito, que as paradas musicais alemãs são um amontoado da mais horrenda "dance music" já feita. Nada das boas invenções que os músicos eletrônicos proporcionam. Prova que o gosto popular alemão não é nada confiável.

Sobre o filme, uma vez que o espectador percebe que se trata de algo sem qualquer pretensão artística e esquece a dublagem mais canhestra desde que pararam de passar o seriado Chips na TV brasileira, até consegue rir um pouco. Por mais que seja muito batida a situação de um adolescente conversando com o próprio pênis, ela ainda consegue arrancar algumas risadas. Mas é de um humor grotesco que raramente funciona. Não é politicamente incorreto como deveria ser. Não tem gags visuais que o justifiquem. Muito menos algo que cause empatia no público adolescente. Com uma possível exceção: a descoberta do amor por aquela amiguinha que não nos dizia nada é sempre um acontecimento que nos comove, por fugir ao nosso controle na nossa fase de espinhas no rosto e masturbações desajeitadas.

Sérgio Alpendre