Ninguém É Perfeito,
de Joel Schumacher


Flawless, EUA, 1999

Lá pelos vinte minutos de filme, quando o personagem de Robert De Niro tem um derrame, fica clara ao espectador a motivação por trás desta produção: indicações ao Oscar. Afinal, com De Niro interpretando um homem semi-paralisado pelo derrame, e Philip Seymour Hoffman um gay efeminado, era impossível não dar em Oscar. Não deu. Assim sendo, Ninguém É Perfeito já nos chega sob o signo do fracasso, pois não atingiu seus objetivos. E não atingiu por um motivo simples: Joel Schumacher é um mau cineasta.

A premissa do filme não deixa de ser interessante: um policial homófobo, após um derrame, precisa conviver com seu vizinho gay que vai lhe dar aulas de canto para acelerar sua recuperação. Poderia ser um filme cheio de diálogos inteligentes, uma comédia nas mãos de um Billy Wilder ou um Woody Allen. Poderia ser ainda um estudo de personagens, de uma relação, como o fantástico Deuses e Homens. Nas mãos pesadas de Schumacher é isso mesmo: uma tentativa de Oscar fracassada. Com os desenvolvimentos mais esperados e preguiçosos possíveis no desenvolvimento da relação, com uma incomodativa de tão desnecessária trama paralela de suspense policial (cuja única razão de existir só pode ser a insegurança do diretor e do estúdio-patrão em um filme de estudo de personagens), com as mais rasteiras definições e caracterizações de personagens e golpes estéticos, como o uso do samba nas cenas de ação ou ainda a fotografia "underground-fake" de Hollywood tentando filmar a vida dos menos favorecidos.

Mas num filme tão claramente feito para destacar seus atores fica a pergunta: eles estão bem? De Niro faz o de sempre: realmente parece que teve um derrame. Porém, mímese não é boa atuação. Esta implica em internalização de um verdadeiro personagem que exista no papel. Nisso, ele (e o roteiro) fica devendo. É apenas uma boa mímese de derrame. Já Philip Seymour Hoffman, talvez o mais talentoso ator americano de sua geração, se apóia em bengalas demais (como o, por incrível que pareça, pulsinho quebrado o tempo todo) em sua caracterização gay. Mas, no tom de voz, no ritmo de sua fala, consegue dar uma dimensão superior ao seu personagem que o retira do estereótipo do "gay-sofrido-mas-valente". É claro que a direção parece não perceber esta capacidade superior do seu ator e insiste no clichê mais barato (adivinhem: tem até a prostituta boa que aceita amar o tira após o derrame, e que se ofende quando ele a paga!!). Após seus Batman sem noção e 8mm, Schumacher parece querer ser um diretor sério hollywoodiano com este aqui. Não cola.

Eduardo Valente