Um Amor Quase Perfeito,
de Ferzan Ozpetek


I Fati Ignoranti, Itália/França, 2001

Ai, ai, como é difícil dizer isso sem soar preconceituoso: o fato é que a imensa maioria dos filmes gay é muito chato. Só não fico mais preocupado de escrever algo assim no início de uma crítica, porque esta opinião na verdade me é corroborada e assinada cada vez mais pelos amigos gays. É como se, no geral, os cineastas que se dispõem a realizar já este estereótipo do que seja um "filme gay" seguissem uma mesma repetitiva cartilha básica, onde afirmar sua sexualidade seja o mais importante. Claro, claro, são anos e anos de preconceito nas costas pedindo algum tipo de modelo de comportamento, pedindo um imaginário que os diga que "está tudo bem em ser gay". Mas, se sob uma perspectiva humana e até mesmo social isto seja mais do que justificável, não dá para cair nos mesmos critérios quando se vai discutir os filmes criticamente. O fato é que se para cada cem filmes "negros" extremamente chatos existe um Spike Lee, não muda muito a estatística dos filmes de uma mostra como a deste Mundo Gay. Para cada Hedwig que expande fronteiras narrativas ao ponto de deixar de ser, principalmente, "gay", existe uma série de clichês de um cinema homossexual.

Aliás, Passado Cor de Rosa nem é dos piores neste sentido. Só não é muito melhor do que isso. Depois de uma bizarríssima cena graficamente violenta que destoa completamente do resto do filme (mas que talvez seja seu principal ponto de "novidade"), o que vemos é o mergulho de uma mulher heterossexual pelo mundo homossexual masculino. A porta de entrada é uma daquelas comunidades de gente simpática, feliz, solidária e criativa que sempre aparecem nestes filmes, em especial um bonito e agradável moço. O tema da relação de uma mulher com o mundo gay talvez seja menos batido, mas a condução do filme em momento algum escapa dos mais óbvios clichês, e é difícil alguém dizer que com dez minutos de filme não podia saber tudo que veria dali por diante. Tudo bem, a condução até é das mais agradáveis e não faz ninguém se torturar sentado na cadeira. Mas ao final, o filme não escapa da mais cruel das perguntas: "o que fica disso tudo?" Pouco, muito pouco...

Eduardo Valente