Fama
para Todos,
de Dominique Derrudere
Iedereen beroemd!, Bélgica/Holanda/França,
2000
Assumindo-se como
uma comédia, e de fato como uma fábula, talvez o que mais
surpreenda neste filme seja justamente o quanto possui de realidade e
de assimilação de temas ditos "sérios" e, acima de
tudo, pertinentes à atualidade. Partindo já de uma discussão
do desemprego hoje, o filme vai incorporando observações
ao longo de sua trama sobre a mídia e seu papel de construção
de mitos, sobre o círculo vicioso criado a partir disso entre público,
artistas e meios de comunicação, sobre o desejo de ser outra
pessoa. Tudo isso enquanto mistura leveza e simpatia com a construção
de uma trama criativa, e muitas vezes surpreendente. Algo de incrivelmente
original? Não, para ser honesto. Mas honesto é a palavra-chave
aqui, pois é isso que o filme é.
Talvez a melhor forma
de enxergar o filme seja como o trajeto de um homem altamente solitário,
que tenta fazer com que sua vida possa fugir do destino de desilusões
e mediocridade a que parece fadada. Neste sentido, o filme ganha alguma
relevância no retrato direto que faz desta vida de classe média
baixa e seu universo de aspirações e mitos. As cenas em
que o homem usa máscara de Michael Jackson para negociar um resgate
são extremamente bem sucedidas tanto em termos de diversão
quanto em escamotear este subtexto do homem comum precisando tornar-se
algo mais para escapar à sua rotina, ao seu destino.
No entanto, é
fato que o filme quer acima de tudo divertir, na sua estrutura mesmo de
uma fábula, de uma história de "Patinho Feio" moderno. E
consegue, mas que ao mesmo tempo possa nos dizer algo do mundo de hoje
através do entretenimento, é o que o torna um filme mais
interessante do que se poderia esperar, mesmo que de forma alguma um clássico
do gênero.
Eduardo Valente
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