E
Sua Mãe Também,
de Alfonso Cuarón
Y
Su Mamá También, México/EUA, 2001
De vez em quando um crítico se vê diante de uma obra indecifrável,
que vai lhe dar muito trabalho, sem apresentar sequer uma possibilidade
de abordagem inicial. A freqüência com que isso acontece, para
conforto, é muito baixa e o filme, infelizmente, nem sempre é
agradável. O filme, apesar de surpreender, ser de difícil
entendimento pode ser banal, toda a complexidade servindo apenas para
esconder uma falta de objetividade ou ideal artístico.
E sua mãe
também é um desses casos. Chama a atenção
o rigor técnico da produção, sua fotografia corretíssima,
suas atuações bem dirigidas, mas o que se impõe é
uma vontade exacerbada de ser tudo. O filme quer parecer moderno, possuidor
de uma aura experimental. Quer também mostrar boa compreensão
da realidade e de seus problemas. Quer ser atrativo para uma platéia
jovem e quer se dar ares de engajado política e socialmente. Então
acaba criando uma variação enorme de assuntos relacionados
com um vínculo não muito forte entre eles. Para acontecer
na tela, a narrativa sofre com cortes onde essas relações
são inseridas, mostradas. Não é preciso dizer que
isso impossibilita entender os temas como algo único, parecendo
que se trata de uma inconsistência na elaboração do
projeto. Queria-se falar de tudo, mas não acharam uma maneira bem
fechada para realizar essa vontade.
Mas colocar todas
essas questões é ser chato como um filme que tem capacidade
de agradar e se diferenciar do resto. Afinal, o mundo do qual fala e descreve
já é por si só atraente: a juventude latino-americana.
Talvez julgar E sua mãe também por suas qualidades
cinematográficas não venha muito ao caso. Aqui, o filme
pode servir para constatar uma relação da produção
atual com a realidade. Uma relação de confusão e
eufórica vontade de lidar com ela, de compreendê-la e explicá-la.
Quando o resultado não é satisfatório, vale a tentativa.
João Mors Cabral
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