O
Escorpião Rei,
de Chuck Russell
The
scorpion king, EUA, 2002
Aqueles que esperam de O Escorpião Rei uma espécie
de continuação da série A Múmia podem
ficar temerosos: há sim, um mesmo universo mítico, espaço
e tempo indecifráveis, povos atípicos, senso de humor contemporâneo,
etc. Mas também há a completa ausência da magia técnica
e do espírito de aventura que povoava a série dirigida por
Stephen Sommers. Tudo que havia de leveza em O Retorno da Múmia,
com seu espírito de filme B feito com milhões de dólares,
se perde muito em O Escorpião Rei. Nada funciona. A começar
pela atuação: por mais que Michael Clarke Duncan tente,
nenhum outro dos atores consegue atuar: desde os protagonistas Dwayne
'The Rock' Johnson à gatinha Kelly Hu até os sósias
de Russell Crowe e Tom Cruise, tudo vai por água abaixo.
Mas e se O Escorpião
Rei fosse um filme interessante? Haveria tudo para ser: já
começa pagando tributo às comédias de ação
vindas de Hong Kong (a série Mad Mission, por exemplo),
com montagem frenética e caras abobadas dos coadjuvantes. Mas a
primeira batalha é patética: escreve-se uma portentosa e
imaginativa luta de um homem contra uns quinze numa tempestade num deserto.
Cena inapelavelmente cinematográfica, que só um diretor
muito lambão poderia destruir. Mas é o que acontece. A cena
é desnudada de qualquer relance de charme, sem qualquer achado
que impressione, sem qualquer composição visual atraente.
E, ao longo do filme,
a ficha cai: já ouviram falar na história de um herói
individualista que deve afrontar-se com um mal absoluto e descobrir seu
laço indissociável com a sociedade em que vive? Que seqüestra
uma mulher por quem acaba se apaixonando? Que, às vésperas
da batalha final, decide invadir o castelo inimigo para evitar que sua
cidade seja destruída? Sim, O Escorpião Rei é
uma versão não-admitida de O Gavião e a Flecha,
obra-prima de Jacques Tourneur (1950). A não-admissão já
diz tudo sobre o filme: desfaz-se do charme do filme B para alçar
a uma estéril (e falsa) categoria de filme "A". Esperemos o próximo
filme dirigido por Stephen Sommers.
Ruy Gardnier
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