O Senhor dos Anéis: As Duas Torres,
de Peter Jackson
The Lord of the Rings: The Two Towers,
EUA/Nova Zelândia, 2002
Há muita coisa para se falar sobre O Senhor dos Anéis. O filme,
por seu orçamento, sua forma de produção corrida, e por ser adaptação
para as telas de uma obra literária cheia de fãs ardorosos, levanta um
incontável número de questões que são capazes de tornar qualquer crítica
extensa demais. Mas como o filme já cuida de ser longo o suficiente, acho
mais adequado não alongar o texto com considerações que podem esperar
o lançamento da última parte da trilogia. Por enquanto basta tratar o
Senhor como um filme e mais nada, pensando-o no momento da projeção.
As três horas de cadeira de multiplex contam mais do que qualquer divagação
sobre a relação da segunda parte no todo da adaptação ou a validade dessa
adaptação.
É possível imaginar
a quantidade de problemas que tem uma superprodução com um efeito especial
por minuto. De alguma maneira esses efeitos, essa necessidade de exagerar
o visual, de carregar na grandiosidade das paisagens, dos ambientes, devem
interferir na forma de filmar. Mesmo levantando essa possibilidade, ela
não serve de desculpa para a simplicidade da decupagem de Senhor dos
Anéis. O espetáculo cinematográfico fica limitado ao exotismo proporcionado
pelos efeitos, sendo eles os responsáveis pela construção da realidade,
não mais a câmera. Isso pode ser uma inovação, dependendo do que se quer
fazer do cinema. No caso de Peter Jackson e seu Senhor dos Anéis,
porém, a técnica parece subjugar o diretor. A montagem nesse As Duas
Torres está um pouco menos rígida. Jackson consegue sair da banal
sucessão de plano geral, plano de conjunto, primeiro plano, mas nada que
demonstre ousadia ou domínio absoluto sobre o mundo que ele se propõe
a construir.
Talvez a intenção de
Jackson, com sua montagem pobre, seus clichês de cavalos brancos, seja
mesmo tornar o filme fácil e acessível a qualquer pessoa. Tudo bem. Mas
o desdobramento disso é perverso. A imagem e o espectador não têm autonomia
suficiente. Nunca nos é permitido pensar algo por nós mesmos. A compreensão
do filme é controlada, as conclusões são determinadas de antemão não pelo
diretor, mas pelo próprio universo maniqueísta de bem e mal. E se os clichês,
a imagem e a montagem não conseguem criar o clima necessário para conduzir
o público um último recurso é usado e a música interminável é chamada
para consertar o trabalho que Jackson não soube fazer. Então o coitado
que pagou caro para sentar na tal cadeira de multiplex é obrigado a ficar
três horas escutando uma trilha sonora irritante, que não lhe dá um minuto
de descanso nem a oportunidade de sentir o que vê da maneira que achar
melhor. Não que a música seja ruim, mas percebe-se claramente que ela
está lá com a função picareta de ajudar ao filme a fingir que é um grande
épico.
E já que o público não
tem escolha e é manobrado e tolhido, só resta mesmo esperar com ansiedade
o terceiro da série para poder pensar melhor o todo ou pelo menos se ver
livre de uma vez dessa obrigação que tinha tudo para ser bom divertimento.
João Mors Cabral
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