D-Tox,
de Jim Gillespie
Eye
see you, EUA, 2002
Nos créditos iniciais, em clima de videoclipe, somos introduzidos
à mente de um assassino que é claramente contra toda forma
de autoridade policial, e que por isso decide matar todos os agentes da
lei que puder. Já daí imagina-se que o filme vai surfar
nas ondas sempre perigosas do crime como espetáculo do sadismo
(onde o fascínio pelos métodos usados é extremo da
parte do cineasta), com um discurso que justifique e inspire no espectador
o máximo de desejo de vingança e punição possíveis.
E não se foge muito disso nos primeiros vinte minutos. Surpreendentemente,
porém, algo acontece que faz o filme parecer que vai virar completamente
seu foco: uma perda, o criminoso é apanhado, e de repente temos
nas mãos o que parece um interessante ensaio sobre a depressão,
sobre a sensação de impotência do policial perante
a violência extrema.
O espectador está
desconfortável, mas ainda mais vai ficar quando o filme se move
para um local isolado no Wyoming (que não sem uma série
de razões nos lembra o ambiente do Enigma de Outro Mundo de
John Carpenter). Lá, um suposto centro de reabilitação,
absolutamente surrealista e estilizado, começa um terceiro filme,
cuja ligação com os anteriores se revela tão direta
quanto incompreensível. No meio desta completa bagunça de
gêneros, parâmetros e registros, o espectador não pode
ser culpado se já está completamente desinteressado do filme.
O que mais surpreende
certamente não é que Sylvester Stallone esteja dando chute
pra todos os lados atrás de algum sucesso (que certamente não
será este aqui), mas que traga junto uma galeria de respeitáveis
coadjuvantes clássicos de Hollywood, que mostram que lá,
afinal, business is business. Assim, temos desde o ex-galã
Tom Berenger como um personagem incompreensível, até Kris
Kristofferson, Courtney B. Vance, Robert Prosky. Os únicos dois
que parecem tirar algum prazer da brincadeira são Robert Patrick
(o eterno T-1000 do Exterminador do Futuro 2) e Jeffrey Wright
(de Basquiat). Mas, de resto, o filme todo é um completo
engano, onde só se entende mesmo o final que confirma a tese de
que os vilões podem até dizimar nossa família e amigos,
mas desde que o matemos com requintes de crueldade, fica tudo no zero
a zero.
Eduardo Valente
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