Dinossauro,
de Ralph Zondag e Eric Leighton


Dinosaur, EUA, 2000

Nós, as Cobaias

Uma bobagem pré-histórica: o filme Dinossauro dos estúdios Disney não passa de um grande teste de marketing como aqueles que nos telefonam para perguntar qual é nosso refrigerante favorito...

Não há nada no filme além de um grande estúdio testando no público de hoje o que só será vivido por completo daqui há alguns anos: filmes sem carne, sem osso ou qualquer traço de criação humana... Filmes em que a representação (diante da ameaça atual da desmistificação na batalha de campo da manipulação fotográfica-mecânica) se lança no absoluto realismo paralelo da virtualidade da imagem. Num mundo em que em nada se acredita, não importa o objeto da descrença – somente deixamos de querer; paralisamo-nos.

Dinossauro é claramente um filme que pouco se importa com seu público, onde o Humano está afogado em fábula fácil e pedantemente politizada. Um filme do condicionamento do olhar, da pesquisa de mercado – o resultado, o sentido do filme pouco importa. Como viagens à Lua em que nada se encontra além de terra seca (e cujo único mérito está na invenção de novas ferramentas tais como relógios digitais...), Dinossauro não quer chegar a lugar nenhum além de um planetóide morto: seu sentido é somente submeter o público ao teste de sobrevivência ante as novas tecnologias da computação gráfica, e vice-versa... Um fenômeno comum às formas de expressão modernas quando ainda latentes: o de se encantar com a forma e se desfazer de um sentido criativo. Como essas novas imagens internautas em que o que se vê é o fascínio oco pela nova reiteração do velho mundo visível; ou um Pierre Lèvy exacerbando a contingente mundialização como se fora uma resposta essencial definitiva... O espanto pelo que o homem é capaz de criar enriquece seus meios mas lhe castra os sentidos...

Dinossauro é um exemplo claro disso: um filme sem idéias, sem vida – campeão de bilheteria, até agora, este ano por conquistar o Humano não pelo que ele quer, mas pelo o que ele se orgulha em ser capaz de produzir (como já fomos um dia encantados com o simples ronco de um carro ou o apito de um trem a vapor). Os sentidos humanos se submetendo aos formatos, as idéias se debatendo por um espaço onde só há lugar para o impensável (não no sentido do incrível, mas no sentido do que não se propõe ao pensamento).

Dinossauro é um quase plágio chulo de Em Busca do Vale Encantado, mas deste, nem a ingênua mensagem de solidariedade consegue reeditar... Uma enorme perda de tempo a qualquer olhar, a quaisquer olhos que não os de ratos de laboratório...

Felipe Bragança