A
Deusa de 1967,
de Clara Law
The
Goddess of 1967, Austrália, 2000
Este novo filme de Clara Law, se visto sob a luz de Jane Campion, representa
um retrocesso de pelo menos 11 anos no cinema feminino que nos vem da
Oceania. Isso porque tivemos a oportunidade de ver recentemente o primeiro
longa de Campion, Sweetie, de 1989, e o filme de Law lembra este
em todos os seus defeitos, mas em pouquíssimas de suas qualidades.
E, mais: se Sweetie era um filme sincero com o frescor de uma iniciante
que claramente iria desenvolver seus temas e obsessões ao longo
da carreira, este já é o quinto filme de Clara Law, e não
soa sincero nem por um minuto, e sim empostado, arrogante, solene, cheio
de si. Em suma, se há um filme que mereça a pecha da sempre
incompleta palavra "chato", é este aqui.
No início,
o que se revelará estilo vazio até que engana como clima,
porque a diretora busca um certo clima estranho, na verdade mais que isso,
um certo "surrealismo", especialmente no desenho dos personagens, que
estimula o interesse. Mas, à medida em que a trama avança
e ao mesmo tempo os "flashbacks" vão surgindo, o que era estranheza
revela-se a mais chinfrim trama de "opressão masculina", que encontra
sua sublimação numa "figura sensível". Claro que
para esconder isso tudo, já tão velho, Law precisa jogar
uma nuvem de fumaça nos olhos do espectador que lhe empreste "modernidade".
E, como é hábito no cinema menos interessante, o faz usando
uma fotografia "deslumbrante", com enquadramento, luzes e cores completamente
"over" no seu objetivo pictórico, destoando de todo o resto para
chamar atenção apenas para si mesmo. As cenas com palavras
escritas na tela são especialmente perturbadoras porque chega a
parecer com um comercial da Citroen que não possui nenhuma ironia
no seu discurso que dê outra chave de interpretação
ao espectador. Com isso, A Deusa de 1967 vai se distanciando a
cada segundo do espectador, ao qual só resta ficar "maravilhado"
observando a sequência de imagens belas e vazias que se jogam na
frente dele. Ao final, nada fica, de nada se lembra.
Eduardo Valente
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