Depois da Chuva,
de Takashi Koizumi


Ame Agaru, Japão, 1999

Confesso que minha vontade de gostar deste filme era tanta que, já nas primeiras imagens, fui logo enaltecendo, em minha mente, sua bela fotografia, seus enquadramentos corretos, sua história interessante. Afinal, quem resiste a uma bela trama sobre samurais, seus códigos de honra, sua sede por aventuras? Sabendo tratar-se da obra de estréia de um discípulo do grande Kurosawa, à partir de um roteiro do mestre, já não esperava impressão contrária à de aprovação. Mesmo tendo lido, ou melhor, percebido, já que leio só depois de ver o filme, muitas críticas negativas.

Adoraria contrariar tais críticas. Infelizmente, quando me acomodei na poltrona do cinema, numa sessão noturna pós trabalho, para vislumbrar a bela obra que intuíra, experimentei uma sensação desagradável de decepção gradual. A cada minuto o filme ficava mais didático e, por isso, menos interessante. Como se o diretor sentisse que o grande mérito de Kurosawa era mostrar hábitos e costumes orientais para o ocidente. Já o acusaram disso. Seu talento era freqüentemente diminuído em favor de Kobayashi, Mizoguchi ou Ozu.

Mas essa é uma pendenga já brilhantemente encerrada, nos anos 50, por André Bazin. É certo que com o passar dos anos, essa tendência de exportação de costumes aumentou. Mas desmerecer o autor de Viver e Ran por esse mínimo pecado, se é que podemos chamar assim, é uma tremenda leviandade. Seu discípulo é que pisa na bola.

Koizumi erra, na maneira americana. É didático demais. Entrega tudo mastigado para o espectador. Kurosawa, por mais ocidental que fosse, sabia que a cultura do nipônica é demasiado rica para ser entendida plenamente. Impressionava também pelo estranhamento que causava. Neste Depois da Chuva não há estranhamento. Seus personagens agem como americanos. A ação é filmada hollywoodianamente, com abundância de planos médios, sem as habituais sacadas de câmera dos diretores orientais. E até o valor pictórico do filme se esvai, porque não tem função. A não ser aquela de atrair os inúmeros admiradores de Kurosawa. E Koizumi, certamente, deve ficar incomodado pelo fato de sua obra de estréia ser sempre comparada à de seu mestre. Que ele se liberte desse incômodo casulo para podermos comprovar um talento que apenas se insinua, em um filme irritantemente reverente.

Sérgio Alpendre