Crupiê
- A Vida em Jogo,
de Mike Hodges
Croupier,
Inglaterra, 1998
Em seu filme Cassino (1994), Martin Scorsese retratou a rotina
de uma grande casa de jogo, utilizando o ponto de vista de seus donos
e administradores. A grande massa que trabalha nas mesas de jogo era uma
personagem secundária e não tenho lembrança de ela
ter sido retratada de forma conveniente, ao menos em filmes recentes.
Daí o interesse que poderia despertar este Crupiê,
produção inglesa que nos chega com quatro anos de atraso
e conta a história de um escritor iniciante, criado na Africa do
Sul, que, num bloqueio criativo, resolve a contra gosto aproveitar a oportunidade
de retomar o ofício que exercera na juventude, como fonte inspiradora
para seu romance.
Após um início
um tanto quanto promissor, onde vemos uma boa apresentação
de protagonista Jack Manfred (Clive Owen) e o tão esperado retrato
do mundo do jogo sob o prisma dos operadores das mesas de apostas, o filme
vai gradualmente perdendo interesse, à medida que personagens curiosos,
como seus colegas Matt (o trambiqueiro) e Bella (a sedutora) são
abandonados em função do envolvimento de Jack em um plano
para roubar o cassino, sob a influência da jogadora Jani de Villiers
(Alex Kingston). Contribui bastante para tal a direção pouquíssimo
inspirada de Mike Hodges, veterano artesão sem estilo do cinema
inglês e que, ao menos neste trabalho, não faz nada para
reduzir a impressão pouco favorável que pesa sobre tal condição.
Também não fez nada bem a Crupiê – a vida em jogo
o fato de ter sido lançado no Brasil pouco tempo após o
ótimo Onze homens e um segredo de Steven Soderbergh, que
explora o mote do roubo em cassino de forma extremamente cinematográfica.
A favor do filme temos
o fato dele não sucumbir a dois dos grandes males que assolam o
cinema atual: o excesso de duração (apenas 94 minutos),
e a síndrome do "parece, mas não é", que
poderia levar a narrativa a misturar a realidade do protagonista com a
história do seu romance. Na falta de coisa melhor para fazer, dá
para encarar, pois quando começa a encher o saco, o filme termina.
Também temos uma ótima atuação de Clive Owen,
dando, na medida do possível, vida a um personagem que, com o desenvolvimento
da trama, vai se mostrando psicologicamente inverossímil.
Gilberto Silva Jr.
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