A Cor do Paraíso,
de Majid Majidi

Rang-e koda , Irã, 1999


Majid Majidi é um cineasta que, com apenas dois filmes, já pode dizer que possui um estilo próprio, com direito a assinatura audiovisual. Seguindo-se a seu Os Filhos do Paraíso, esta Cor do Paraíso revela que, se tem câmera lenta para efeito dramático e criança chorando para emocionar o espectador no cinema iraniano, trata-se de um filme de Majidi.

Fora de qualquer brincadeira, este seu segundo trabalho é um filme que peca por confundir "ser simples" com "ser simplório". A quase ausência de uma trama (o que temos aqui é um fiapo apenas) poderia resultar poética ou de alta carga existencial. Mas a mistura desta ausência de trama com o alto teor de melodrama presente no filme (sendo que o melodrama é caracterizado muito mais por um excesso de trama) acaba se revelando altamente indigesta. Ou, pior ainda, completamente sem gosto. Claro que alguns se emocionarão com o drama do jovem cego rejeitado pelo pai, mas afinal também podemos nos emocionar com a edição do tal do Essa é sua Vida que o Faustão encena todo domingo, e isso não o tornará melhor ou menos apelativo.

O que mais se pode lamentar é que há, nas frestas, um belo filme esperando para ser feito, como se pode ver na paisagem das montanhas e florestas iranianas, ou na insinuação da relação amorosa do pai, ou ainda na relação do garoto com o mestre carpinteiro cego. Mas tudo resulta sempre no mais óbvio clichê narrativo voltado para fazer chorar. Já na primeira cena temos certeza de que aquele jovem cego será um mártir o filme todo, temos uma vovó velhinha que sabemos que vai morrer desde a primeira vez que a vemos, temos o pai sempre vestido de preto e pagando os pecados que cometeu, temos um casamento fracassado também muito anunciado. Temos até o cúmulo de ver as personagens bondosas do filme salvando animaizinhos indefesos, olhem só. Eu, pessoalmente, fiquei muito mais preocupado com o cavalo que foi jogado no rio para encenar a sequência final. Será que ele sobreviveu? Isso o filme não conta...

Os poucos focos de interesse como a insinuação de um uso subjetivo do som que acaba subaproveitado, ou a noção do tato como forma para o cego de buscar um contato com Deus (que acaba resultando num plano final absolutamente inacreditável) esbarram com a evidente falta de talento, ou pior, falta de esforço de desenvolvimento narrativo ou estético do diretor. Seria o caso de perguntar: mas o filme é tão ruim assim? Nem chega a ser, e isso é pior ainda. O filme é, tão somente, dispensável, comum ao extremo. Mas, claro, sempre tem aqueles que vão achar que precisam gostar porque é iraniano. Carece disso não.

Eduardo Valente