Condenado
à Liberdade,
de Emiliano Ribeiro
Condenado
à Liberdade, Brasil, 2000
Em muitos aspectos este filme
lembra O Dia da Caça, de Alberto Graça. Não
só por ser ambientado principalmente em Brasília, mas porque
tentam, junto com alguns outros filmes, criar uma tradição
de um filme policial brasileiro, algo possivelmente inédito neste
formato tentado. Mas, o principal motivo que faz pensar no outro filme
é o fracasso das intenções em se concretizarem no
filme, e mais ainda, o fracasso desta forma narrativa em chegar ao público.
Ambos os filmes possuem uma
grande qualidade no meio do cinema brasileiro dos últimos anos:
simbolicamente usam Brasília para tentar algum tipo de olhar sobre
o Brasil de hoje, sobre a contemporaneidade. No entanto, tal e qual no
outro filme, a tentativa fica na mais rasa utilização de
certos "clichês" do que seja o Brasil das CPIs, da corrupção,
das relações de poder. Não se vai de fato a fundo,
nem se tenta um enfoque novo.
Mas, o que torna ambos os filmes
francamente incomodativos é uma completa incapacidade de serem
aquilo que deviam ser: filmes efetivamente voltados para o público,
no sentido do entretenimento. Os americanos dominam o know-how desta arte
de usar o mundo de hoje como pano de fundo para os dramas dos personagens
frente ao sistema, mas acima de tudo frente uns aos outros. No caso deste
filme, fica claro não só uma falta de domínio narrativo
para se criar no jogo do mis-en-scene+montagem uma trama que tenha qualquer
suspense ou ritmo, como mais seriamente, uma dificuldade em dar qualquer
verdade a seus personagens. Um constante ""overacting" dos atores,
somado a um excesso de cuidado com um roteiro supostamente bem urdido
entregam o filme a uma camisa de força sem qualquer espaço
para mobilidade ou vitalidade. O filme resulta completamente esquemático,
desinteressante mesmo. E, como se não bastasse, existe o vício
do cinema de autor que não permite uma simples entrega à
trama, mas pede alguns cacoetes como planos belos, simbólicos (há
um especialmente ruim de um besouro), construções supostamente
sutis que resvalam no ridículo.
Se os filmes servem à
consolidação lenta de um possível cinema de gênero
e apelo popular no Brasil, e se estes são apenas os necessários
erros iniciais de quem assimila uma linguagem, deve-se louvar a iniciativa.
Mas se o futuro revelar que são apenas nati-mortos espasmos de
uma tentativa de contato popular sem bases, serão obrigatoriamente
esquecidos. Como maior interesse do filme, fica o final que indica que,
no Brasil, o crime talvez seja mesmo o caminho mais interessante para
a felicidade. A conclusão só não fica totalmente
contestadora porque se parece muito mais com uma desculpa para um final
efetivamente feliz do que uma reflexão irônica e crítica.
Mas, não deixa de ser algo que faz pensar, num filme que pouco
consegue nesta seara.
Eduardo Valente
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