Buena Vista Social Club,
de Wim Wenders


Buena Vista Social Club, EUA, 1999

Comercial de duas horas.

Como falar mal do filme xodó? Será que qualquer argumento será considerado? Não estaria me aventurando e me expondo a pedradas? Claro que sim. Mas esse é um costume que pretendo adquirir. Além do mais, não irei ficar quieto quando me sinto lesado por uma propaganda enganosa que foi muito bem arquitetada com exibição de traillers muito antes do filme ser lançado.

Na ocasião, é claro que uma promessa foi feita: Filme de Wim Wenders, feito em cuba, com músicos fantásticos e música fenomenal. Pois é só isso que tem a nos oferecer. Ou seja, nada além do que devia.

Quando um filme documentário é realizado, sempre se deve procurar saber as intenções dos realizadores. Afinal, documentário é uma visão da realidade, particular, mas direcionada para um público que consumirá esta visão como uma maneira de entender essa mesma realidade através do que acabou de ver na tela. Buena vista... não diz nada com sua inocência aparente. Cubanos são puros, lindos e sem mácula moral. São criaturas musicais por natureza e não passam disso, e agora que uma certa "abertura política" começa a se impor, servem perfeitamente para consumo ocidental.

A impressão que deixa é de que o filme não passa de uma bela de uma armação para vender CDs. Analisarei as "coincidências", que são intrigantes.

Começando, a trilha sonora já estava sendo anunciada de antemão. E muito antes de acontecer, já dava para adivinhar que seria lançada mais cedo ou mais tarde.

Quem recebe grande parte da glória pela descoberta e divulgação da música dos cubanos é o produtor do filme, Ry Cooder(?!?!). É ele também que toca nos shows e gravou o CD.

Música cubana sempre existiu. Músicos cubanos sempre foram ótimos. Porque é preciso então aparecer um americano e mostrar ao mundo o que já era sabido?

Muito antes de ser uma obra crítica de uma situação de desigualdade e de destruição de valores artísticos, esse documentário assume uma postura de concordância com os fatos. Aceita a forma de legitimação para a arte. Faz dela um objeto para consumo ocidental dentro dos moldes capitalistas e não se sente culpado. Como se a música cubana do americano Ry só passasse a valer depois de ser tocada em New York.

Desiludido, não vou comprar o CD. E já conto com uma exibição em duas partes na GNT. É mais do que adequado.

João Mors Cabral.