O Diário de Bridget Jones, de
Sharon Maguire
Bridget Jones' Diary, França/Reino
Unido/EUA, 2001
Baseado no best-seller homônimo, este filme trata das alegrias e
desventuras da personagem título. E Bridget é uma espécie
de retrato de um tipo de mulher que é bem comum nos dias de hoje:
aquela que, com seus trinta e poucos anos, já conquistou a independência
financeira, mora sozinha, tem um bom emprego, mas que em matéria
de relacionamentos é absolutamente imatura, insegura e frustrada
por ter chegado até tal idade ainda solteira. É aquela sorte
mesmo para quem revistas como Cosmopolitan são feitas; acreditam
no verdadeiro amor embora ainda não o tenham conhecido, vivem em
guerra com a balança mas afogam suas mágoas em uma bela
caixa de bombons ou com alguns pileques.
E Renée Zellweger
está ótima no papel: tendo engordado oito quilos para encarnar
a personagem que vive sempre um pouquinho acima do peso e escondido o
seu sotaque de texana para viver uma inglesa, é uma perfeita Bridget.
A moça que busca o verdadeiro amor se vê as voltas com dois
homens: o primeiro, seu chefe - e mais tarde ex-chefe, já que ela,
para mudar totalmente de vida, tentando recomeçar, muda de carreira
-, um galanteador, mulherengo e sedutor, com quem acaba tendo um caso
que se revela um desastre desde que ele quer Bridget apenas como amante
- pois tem uma noiva que além de tudo é magra; o segundo,
que lhe foi apresentado por sua mãe, um tipo que já na primeira
vez em que a vê faz um comentário pouco elogioso sobre ela,
que acaba ouvindo e ficando furiosa, um sujeito com quem Bridget acaba
sempre cruzando em lugares inusitados e com quem termina sempre por trocar
farpas. O primeiro, um extrovertido e bom de cama, o segundo, orgulhoso
e tímido. É claro que nas suas idas e vindas ela acaba descobrindo
o valor do segundo e se apaixona por ele, um homem verdadeiramente sério
e honesto. Porque por detrás de toda a história sobre a
mulher de trinta anos que ainda procura seu príncipe encantado,
temos, como sempre, Jane Austen. E O Diário... é
uma sorte de adaptação de um de seus mais famosos romances,
Orgulho e Preconceito, o livro que povoa há dois séculos
o imaginário das mocinhas sonhadoras, sempre à procura de
seu encantado Mr. Darcy.
A frase que abre o
diário de Bridget é justamente a frase que abre o livro
de Austen: "É uma verdade universalmente conhecida que..."
e por aí vão as semelhanças. No livro, assim como
no filme, a personagem principal, uma moça independente - e já
um pouquinho velha para se casar - conhece um cara tímido e surpreendentemente
orgulhoso que lhe faz uma crítica que a desagrada e nutre a partir
daí um enorme preconceito em relação a ele, acreditando
inclusive nas calúnias que lhe faz um outro sujeito, galanteador
e simpático (o Hugh Grant do filme atribui a Colin Firth, que se
chama, adivinhem, Mark Darcy, uma canalhice que ele mesmo havia aprontado).
Mr. Darcy, porém, se revela o homem ideal e Eliza Bennet - a mocinha
- acaba apaixonando-se e, eventualmente, casando-se com ele. A filosofia
de Austen é: para cada pessoa, existe apenas uma outra, sua alma
gêmea, a quem se deve procurar e com quem se deve casar. Pois se
a perdemos, é certo que jamais encontraremos outra igual. É
a apologia do amor único. E O Diário... segue o mesmo
caminho. Tomemos o exemplo dos pais de Bridget: casados há não
sei quantos anos, acabam por se separar porque a esposa decide ir viver
com outro - um sujeito meio afeminado que apresenta programas em um canal
como o nosso Shoptime - e deixa o marido, com essa decisão, louco
de tristeza. É claro que ela percebe, com algum tempo, a besteira
que fez; que nenhum homem jamais substituiria aquele seu marido tão
amado e bom. Se ele tem alguns defeitos, isso não é nada
que não possa ser conversado e superado. Pois ele é o seu
amor. O único.
E para Bridget, vale
o mesmo. Seu Darcy pode parecer um facínora a princípio,
mas é o homem mais dedicado, honesto, bonito e tudo o mais que
poderia haver. Ela acaba, é claro, por se acertar com ele para
viver o amor, o verdadeiro amor. E, coincidência ou não,
Colin Firth fez o ideal Mr. Darcy na montagem de Orgulho e Preconceito
para a BBC.
Juliana Fausto
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