Blade
2,
de Guillermo del Toro
Blade 2, EUA, 2002
Sempre que um talentoso diretor estrangeiro
faz um filme hollywoodiano de gênero, a comunidade inteira espera
o sopro de renovação que o própria capital do cinema
vem sendo absolutamente incapaz de realizar. Foi assim com John Woo, que
mudou definitivamente o padrão do cinema de ação
no mundo inteiro, e deve ser assim com Alejandro Amenábar, que
conseguiu em seu primeiro filme americano realizar uma proeza: criar um
clima de suspense e cinema fantástico como uma obra de grande orçamentos
não faz há anos excetuando somente Tim Burton. Guillermo
del Toro, entretanto, não goza da mesma sorte que seus colegas:
depois do projeto pessoal de Cronos, realizou o fracassado Mutação
para Hollywood. Uma outra incursão pessoal com A Espinha do
Diabo fazia crer que a balança tinha pendido para o lado, mas
eis que surge a possibilidade de realizar a continuação
da série Blade, com Wesley Snipes.
Possibilidade de redenção ou
de danação definitiva para alguns, Blade 2 é
apenas mais um passo para um diretor se encontrar numa indústria
majoritária ou definitivamente sair dela. O cansaço
e a preguiça das soluções de mise-en-scène
fazem supor que o diretor perdeu o controle artístico do filme
cedo demais: o clima e a composição visual que del Toro
costumeiramente cria em seus filmes dá lugar aqui a uma simples
série de decoração dark para os caminhos e
descaminhos de um vampiro que se reúne com seus inimigos para lutar
contra um mal maior. Temática a princípio carpenteriana,
a narrativa de Blade 2 vai aos poucos se tornando irrelevante,
apenas um veículo para o carisma de Wesley Snipes e a beleza exuberante
de Leonor Varela. Filme de ação e de montagem, Blade
2 não combina muito com as especialidades de Guillermo del
Toro, que
ele se interessa muito mais pelos efeitos de beleza e composição dentro
do plano (ou seja, nos aspectos picturais) do que nos movimentos e na
decupagem (claramente espetaculosos e sem força interna). A força
do filme aparece apenas em algumas ocasiões: na sinergia entre
os dois protagonistas e, acima de tudo, nos efeitos especiais em que os
vampiros assassinados se dissolvem. Essas poeirinhas amarelas e vermelhas
que saem da pele dos bandidões são o grande atrativo de
Blade 2. Já é alguma coisa.+
Ruy Gardnier
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