Não
É Mais um Besteirol Americano,
de Joel Gallen
Not Another Teen Movie,
EUA, 2002
Qual
a graça em fazer um Todo Mundo em Pânico (Scary
Movie) depois da série Pânico, quando todos os
ingerdientes do terror adolescente já estão mastigados,
já são todos autoconscientes e não apresentam mais
nenhuma novidade? E qual é a graça de, a esse ponto, fazer
um filme chamado Não É Mais um Besteirol Americano
quando, desde American Pie, já se trata de requentar toda
a tradição da comédia de escola que já tem
mais de vinte anos (Porky's, Picardias Estudantis)? A se
julgar pelo resultado que se vê na tela, nenhuma. Junta-se um aglomerado
de filmes recentes citáveis (a intriga repete Ela É Demais,
há uma malvada que repete Cruel Intentions, uma jornalista
que volta à escola como em Nunca Fui Beijada...) e um punhado
de citações aos mestres (a high school do filme chama-se
"John Hughes", Molly Ringwald aparece no fim do filme...).
Já
bem delineado por uma penca de filmes nos anos 90 que só fizeram
cristalizar e diluir o estilo e os principais eixos temáticos (virgindade,
amor perfeito, encontro entre contrários), o gênero da comédia
adolescente já se presta muito pouco à piada acima
de tudo, porque todas elas já foram feitas! Assim, aparece o gostosão
da escola, passeando pelo corredor e recebendo várias calcinhas
de meninas; assim, a jornalista mais velha, representada por uma sexagenária;
assim, o figurante negro cuja única função é
ficar repetindo as mesmas interjeições o filme inteiro (that
is whack!).
A paródia
moderna no cinema americano, tendo começado com o admirável
Airplane! (Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!) de Jim Abrahams
e dos irmãos Zucker, logo cedo deu sinais claros de desgaste. Também,
não é para menos: o olhar dos espectadores, hoje, já
é totalmente cínico, já reconhece completamente todos
os códigos, todos os personagens típicos, todos os atrativos
básicos (nudez, piadas com excrementos), de forma que o riso é
pouco, ou quase nenhum. Mas Não É Mais um Besteirol Americano
tem ao menos algumas boas sacadas: um sujeito que, a todo momento, tenta
começar uma salva de palmas em reconhecimento a uma ação
nobre; ou então a discussão sobre quais garotas merecem
ou não merecem a clássica câmera lenta que sempre
acompanha o primeiro plano da gatinha que protagoniza o filme. Por um
momento, tem-se a impressão que se está dissecando o gênero,
de que realmente entramos num terreno teórico e que esse terreno
notável! é realmente engraçado. Mas
depois as piadas ruins retornam e tudo volta ao normal. Sabemos sempre
onde estamos...
Ruy
Gardnier
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