Driblando
o Destino,
de Gurinder Chadha
Bend
It Like Beckham, Inglaterra, 2002
Foi possivelmente
detonada por Quatro Casamentos e um Funeral (1994) uma avalanche
de comédias inglesas de pequeno orçamento e que rende pelo
menos um título de sucesso a cada ano, mas que nunca conseguiram
atingir a excelência do filme da dupla Mike Newell / Richard Curtis.
Mais recentemente, tal sub-gênero já vem demonstrando sinais
de profundo esgotamento e uma reciclagem de seus próprios ingredientes,
o que este Driblando o Destino deixa mais que caracterizado. Vejamos:
o universo dos imigrantes indianos em Londres já foi tema de East
Is East (1999) e se Billy Elliot (2000) tratava de um garoto
que queria dançar balé, por que não inverter os papéis
e colocar agora uma moça que gosta de jogar futebol como a protagonista
Jesminder (Parminder K. Nagra).
Desde a concepção,
o filme da anglo-indiana Gurinder Chadha não parece guardar qualquer
manifestação de originalidade em sua proposta. Procura sempre
caminhar por terrenos já explorados anteriormente, como no caso
do batido e caricatural retrato da família de imigrantes, apegados
às tradições, mas de coração mole,
que, no caso, são hindús na Inglaterra, mas que, na prática,
não difeririam muito dos gregos nos Estados Unidos ou dos libaneses
na Suécia. Além disso, o roteiro parece uma receita de bolo,
organizada de uma forma previsível, mas juntando ingredientes que
levem ao fácil agrado de diversos tipos de público; temos,
então, romance para as mulheres, futebol e mulheres bonitas para
os homens.
Tendo em vista essa
mistura já requentada antes de ficar totalmente pronta, não
surpreende que o resultado final seja quase sempre um filme sem graça
ou imaginação. A vertente cômica, principalmente,
acaba saíndo como um chute para fora. Os momentos que garantem
algum interesse são sempre aqueles ligados ao futebol, em especial
a única piada gozada do filme, onde o pai de Juliette (Keira Knightley),
a parceira de Jesminder no time, explica à sua mãe perua
o conceito de impedimento, sempre de difícil compreensão
pelo sexo feminino, utilizando garrafas e vidros de tempero. Driblando
o Destino, assim como toda e qualquer partida de futebol, pode, dependendo
do envolvimento do público, até suscitar alguma paixão
ou emoção, mas não devemos esquecer que ele em nada
se assemelha a um grande jogo de final de campeonato, estando mais para
um Madureira e Olaria com placar final de zero a zero.
Gilberto Silva Jr.
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